Consumida como alimento básico pelos astecas (1300-1521), a espirulina voltou com força ao México, onde tem sido presença frequente em cardápios. Com alto teor de nutrientes, é considerada um superalimento, e de fácil cultivo. Por seus benefícios à saúde, especialistas estão até cogitando cultivá-la em futuras colônias marcianas.
Encontrada com facilidade no Brasil em cápsulas de complemento alimentar para dar vigor físico ou ajudar em tratamento de emagrecimento, a espirulina é uma cianobactéria, organismo que se desenvolve em água doce. É também chamada de alga verde-azulada que contém características vegetais obtendo energia pela fotossíntese.
Os benefícios da espirulina provêm de uma constituição que reúne elevada quantidade de proteínas e aminoácidos essenciais, além de antioxidantes, vitaminas, minerais (principalmente ferro) e manganês.
Os astecas a colhiam no lago Texcoco, depois drenado pelos invasores espanhóis para a construção da Cidade do México. O ambiente aquático ali oferecia um equilíbrio entre salinidade e alcalinidade ideal para o cultivo da espirulina, que era chamada de tecuitlatl – “excremento da rocha”, em tradução livre.
“As tradições orais dizem que os mensageiros e corredores astecas na antiga Tenochtitlan comiam espirulina seca com milho, tortilhas, feijão ou pimenta como combustível para viagens de longa distância”, afirmou à BBC Denise Vallejo, chef do restaurante vegano Alchemy Organica, em Los Angeles.
SABOR SERIA ALGO ENTRE ABACATE E ESPINAFRE
Em suas memórias de 1568, o conquistador espanhol Bernal Díaz del Castillo registrou “uma espécie de pão feito de um tipo de lama ou limo coletado da superfície do lago e comido dessa forma, e que tem um sabor semelhante ao nosso queijo”.
O misterioso ingrediente só foi redescoberto pelo Ocidente na década de 1940, quando um estudioso de algas francês percebeu que o povo africano Kanembu colhia espirulina e a transformava em bolos secos ao sol. Os Kanembu viviam em torno do Lago Chade, que, além do Chade, banha Níger, Camarões e Nigéria.
Mas a redescoberta da espirulina no México se deu quando os proprietários da empresa Sosa Texcoco perceberam uma substância esverdeada que prejudicava suas atividades. A empresa produzia carbonato de sódio e cloreto de cálcio na lagoa que restou do Texcoco. Foi quando pesquisadores franceses contratados por eles descobriram que se tratava do mesmo alimento que alimentava os Kanembu.
Longe de se livrar da tal substância, a Sosa Texcoco passou a cultivá-la e abriu a Spirulina Mexicana, primeira empresa mundial a explorar a cianobactéria comercialmente. A empresa já não existe, mas o cultivo teve continuidade por meio da Spirulina Viva, uma microfazenda próxima da cidade de San Miguel de Allende.
Ali, o casal Francisco Portyillo e Katie Kohlstedt – ele mexicano e ela americana – cultiva desde 2010 a espirulina fresca, “que deve ser cremosa como um requeijão”, conforme descreveu Kohlstedt à BBC. “Se você fechar os olhos, pode achar que está comendo algo entre abacate e espinafre”, comparou ela.
Os dois têm oferecido oficinas de cultivo de espirulina, frequentadas inclusive por estrangeiros. Kohlstedt sugere comê-la misturada a sopas e caldos, batida com frutas, passada no pão ou ainda associada a um dos mais populares pratos mexicanos, guacamole – se possível acrescentando suco de limão, cuja vitamina C favorece a absorção do ferro.
No Brasil, a Spigreen já é o maior fabricante de espirulina em cápsulas da América Latina. Conforme seu vice-presidente, Matheus Morais, a espirulina produz 400 vezes mais proteína por hectare que a carne vermelha, 230 vezes mais proteína que o arroz e 60 vezes mais proteína que o trigo. “Além disso, sua cultura precisa quatro vezes menos de água que a soja, cinco vezes menos que a do arroz e cinco mil vezes menos que a carne de boi”, disse ele ao portal Agrolink.
A empresa comercializa cápsulas em duas linhas: para tratamento de emagrecimento e como complemento alimentar para melhorar o desempenho em atividades físicas. Oferece também produtos cosméticos à base de espirulina.