Os efeitos terapêuticos da jardinagem têm sido demonstrados cientificamente há tempos. Recentemente, foram mais uma vez constatados por uma pesquisa no Reino Unido – país onde essa atividade é uma mania nacional. Realizado pela Sociedade de Horticultura britânica, o estudo ouviu 6 mil pessoas para concluir que duas ou três sessões de jardinagem por semana são capazes de reduzir o estresse e aumentar o bem-estar.
Publicada na ScienceDirect, a pesquisa verificou também que as pessoas praticam jardinagem principalmente por prazer e que os benefícios da atividade são proporcionais ao tamanho da área cultivada: quanto maior o jardim, maior é o bem-estar.
Os resultados indicaram ainda que a atividade nos torna mais criativos, reduz o tempo diante da tela, cria um sentimento de responsabilidade e controle, melhora a conexão com os outros e funciona como exercício físico, queimando calorias.
Segundo a pesquisadora Lauriane Chaumin-Pui, quanto maior a frequência com que se cuida de uma horta ou jardim, maiores os benefícios para a saúde. “Jardinar todos os dias tem o mesmo impacto positivo sobre o bem-estar de praticar exercícios regulares e vigorosos, como andar de bicicleta ou correr”, disse ela em depoimento trazido pelo site Conexão Planeta.
“Quando fazemos jardinagem, nossos cérebros ficam distraídos pela natureza ao nosso redor”, explicou Chaumin-Pui. “Isso tira nosso foco de nós mesmos e de nosso estresse, restaurando assim nossas mentes e reduzindo os sentimentos negativos.”
‘AUTOSSUFICIÊNCIA, LIBERDADE E PRAZER’
Praticante de jardinagem há quinze anos, o biólogo Eduardo Mattos afirma que os benefícios à saúde começam pela oportunidade de pôr o corpo em movimento, mas vão muito além. “Trabalhar a terra e plantar seu próprio alimento é exercitar autossuficiência, liberdade e prazer”, diz ele ao R.evolution Club.
Para Mattos, a jardinagem ajuda a perceber a beleza da diversidade no mundo, favorecendo inclusive as relações humanas. “Você percebe os ciclos da natureza”, afirma ele. “Sai um pouco do calendário numérico e se conecta com as estações.”
O biólogo destaca ainda a possibilidade de exercitar os cinco sentidos: mexer em terra, plantas e água; perceber os cheiros; ouvir insetos e pássaros que se aproximam; observar as espécies crescendo; e ainda saborear os frutos de seu trabalho. “O efeito é terapêutico”, confirma.
A simples contemplação da natureza tem sido relacionada a efeitos positivos sobre a saúde. Na jardinagem, a interação seria, porém, maior e os efeitos mais diversos. Há relatos de que a prática melhora a atenção e até os níveis de vitamina D.
COMBATE A DOENÇAS CARDÍACAS, DIABETES E OSTEOPOROSE
No início do século passado, o médico americano Benjamin Rush realizou estudos de psicologia que o levaram a concluir que a jardinagem tem poder terapêutico. Ele passou a recomendar a prática em unidades de reabilitação de hospitais que tratavam veteranos da Primeira Guerra Mundial
Mais recentemente, o epidemiologista americano Carl Caspersen atestou que três horas e meia de jardinagem por semana favorecem tratamentos de doenças cardíacas, diabetes e osteoporose, entre outros males. Seu estudo foi publicado na American Journal of Epidemiology.
Já pesquisadores da Universidade de Bristol, no Reino Unido, verificaram que o contato com uma bactéria presente na terra e no adubo de compostagem funciona como antidepressivo e é capaz de aliviar dores.
E ainda na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, estudiosos mediram o nível de felicidade de praticantes de jardinagem e o compararam ao de atividades de lazer como andar de bicicleta e jantar fora. Segundo eles, o cultivo de alimentos dá mais satisfação que o de plantas ornamentais, possivelmente por permitir comer o que se plantou.