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Os perigos da arrogância, e seu efeito contagiante

A arrogância pode ter consequências perigosas, e ainda contagiar aqueles que estão por perto. Pesquisas mostram que tendemos a pensar que somos melhores do que a maioria das pessoas, um fenômeno descrito por especialistas como o “efeito melhor do que a média”. Professor da Universidade da Califórnia, o psicólogo Ethan Zell reuniu uma série de estudos e dados – incluindo 124 artigos publicados sobre o tema – e concluiu que a tendência é predominante.

Na estrada, o excesso de confiança na própria capacidade pode aumentar o risco de acidentes. Na medicina, pode levar a erros de diagnóstico. No direito, pode levar a falsas acusações. E nos negócios, a fraudes e falências.  Tudo isso é descrito nos estudos analisados por Zell. “As evidências são extremamente – e até incomumente – fortes”, disse ele à BBC.

O próprio Zen tem o hábito de testar o “efeito melhor do que a média” em sala de aula. Quando distribui um questionário pedindo aos estudantes para classificarem a si próprios em relação à média, quase todos “acham que estão acima da média em quase tudo”, constatou.

Já Joe Cheng, professora de psicologia da Universidade de York, no Canadá, demonstrou num estudo que a arrogância contagia. “Se você foi exposto a uma pessoa que tem excesso de confiança, você tem uma probabilidade maior de superestimar sua situação relativa”, disse ela.

 

AUTOVALIAÇÃO DE GRAU DE CONFIANÇA

Joey pediu aos participantes do estudo para olhar fotos de rostos de pessoas e tentar adivinhar a personalidade delas com base em suas expressões – uma tarefa que algumas pessoas conseguem fazer com precisão razoável. Para medir o grau de confiança dos participantes, ela solicitou que eles classificassem a percepção que tinham de sua própria capacidade.

Em seguida, Joey pediu aos participantes para se juntarem em pares para olhar o mesmo tipo de foto, e mais uma vez eles foram solicitados a classificar a percepção de sua capacidade. Foi aí que ela constatou, entre aqueles que haviam se mostrado mais humildes na autoavaliação, uma tendência a melhorar a percepção sobre si próprios, após o contato com o parceiro que demonstrava excesso de autoconfiança.

A psicóloga realizou outros experimentos semelhantes e verificou uma espécie de efeito cascata, indicativo de que a arrogância pode se espalhar por todo um grupo. “Por ser exposto a uma pessoa, você tende mais a adquirir o modo de se comportar e de pensar dela”, disse ela. Seus resultados corroboram outros estudos segundo os quais uma pessoa pode influenciar outra em lembranças de um acontecimento vivido por ambas, em percepções de beleza e em opiniões políticas.

Joan citou a empresa de energia Enron como um potencial exemplo de como essa tendência pode se tornar predominante. Antes a sétima maior empresa dos EUA, a Enron faliu em 2011, em meio a relatos sobre fraudes e corrupção disseminadas. Hoje, a empresa é conhecida por sua “cultura de arrogância”. Um ex-funcionário comentou: “Não há dúvida de que as pessoas da Enron arrogantemente pensaram que eram mais espertas que todas as outras”.

 

HUMILDADE PARA SER MAIS REALISTA

Joan sugere que as organizações repensem o tipo de comportamento que apreciam em seus funcionários. “Líderes e gerentes precisam estar atentos aos efeitos de certos indivíduos sobre os outros, porque o excesso de autoconfiança pode se espalhar muito”, diz ela. Ela recomenda também cuidado na hora de contratar funcionários e alerta: pessoas mais humildes podem ajudar toda a equipe a ser mais realista.

Em artigo para o site Emerald Works, dedicado a empreendedorismo, a coach Bruna Martinuzzi  afirma que autoestima é algo bom, mas quando em excesso pode incentivar a arrogância e o narcisismo. Ela alerta para a importância de diferenciar confiança – um sentimento de segurança em relação à capacidade e qualidades próprias – de arrogância – uma percepção exagerada da própria importância ou capacidade.

Bruna dá algumas dicas sobre como lidar com pessoas arrogantes no trabalho. Uma delas é incentivar mudanças positivas, inclusive na avaliação do desempenho. Ela cita a conclusão de um estudo de que as às vezes pessoas arrogantes pensam equivocadamente que sua expertise justifica seu comportamento. E afirma: é preciso que elas saibam que não basta ser brilhante. É igualmente importante se relacionar bem com os outros.

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