Boa pinta, ele não parece bem um sacerdote católico. Mas o padre Fábio de Melo se tornou um fenômeno religioso nas redes sociais durante a pandemia, o que pode ser atribuído à forma descontraída e espontânea com que se comunica, associada ao humor e talento de cantor. No YouTube, tem um público de 1,23 milhão de pessoas. No Facebook, são quase 7 milhões. Em recente postagem no Instagram – 21,4 mil seguidores – ele aparece com uma camisa estampada de estilo havaiano, avisando que cortou a barba – “ajuda a emagrecer” – e fez megahair no topete.
Sua missa do Dia dos Pais teve mais de 230 mil visualizações. Durante a cerimônia, padre Fábio de Melo chegou a brincar, “estou magoadinho”, porque nenhum fiel que assistira à missa do Dia dos Padres, dias antes, havia lhe parabenizado. Imediatamente, o público começou a se desculpar e compensar a falta nas redes sociais. E então ele postou a pérola: “Foi como quando minha mãe se esqueceu do dia do meu aniversário.”
Mestre em antropologia teológica, padre Fábio tem seis livros publicados, entre os quais a autobiografia Humano demais (Globo Livros). Tem também onze CDs gravados que, juntos, venderam mais de 1,8 milhão de cópias. Não se pode dizer, porém, que ele teve uma vida fácil. Caçula dos oito filhos do pedreiro Donnato Bias da Silva, passou pelo tormento de ver o pai alcoolizado bater na mãe, Ana Maria de Melo Silva, que se dedicava à casa e às crianças.
Padre Fábio foi vendedor de doces, entregador de pão, ajudante de pedreiro e trabalhou em colheita de café, enquanto aguardava a oportunidade de se realizar na vocação manifestada já nos tempos de garoto, quando gostava de brincar de padre. Nascido em Formigas, no interior de Minas Gerais, em 3 de abril de 1971, foi ordenado sacerdote em 2001, na diocese de Taubaté, São Paulo.
A TENTAÇÃO DO AMOR POR UMA MULHER
A despeito da certeza precoce da vocação religiosa, padre Fábio passou pelo que considera a maior tentação de sua vida aos 22 anos, quando se apaixonou por uma mulher de 25. “Foi algo diferente, real e íntimo”, descreveu na biografia. Segundo ele, foi a própria amada, hoje casada, que desistiu do romance. Ela alegou que ele nascera para ser padre e foi morar em outra cidade.
Padre Fábio teve uma ascensão meteórica na igreja católica. Hoje, mais do que nunca, coleciona seguidores dos mais variados credos, mostrando que as questões religiosas podem extrapolar para as espirituais. Sua palavra também conquista ateus. Ele é quase que um dublê de psicanalista. Nesse momento de pandemia, ocupa como poucos o vazio espiritual trazido pelo isolamento. É uma voz de consolo para uma multidão de pessoas que não sabem bem o que fazer com o tempo ocioso, ou durante as noites insones.
Apesar da potência de sua personalidade, há três anos padre Fábio foi vítima de uma depressão que quase o levou ao suicídio. “Eu ficava horas e horas do dia e da noite pesquisando na internet formas de morrer”, admitiu. A confissão da crise só fez aumentar o número de seguidores.
Recuperado, seu jeito brincalhão é exposto nas cenas engraçadinhas que ele posta nas redes sociais. Uma menininha de óculos escuros é puxada pela mãe numa prancha à beira-mar e, subitamente, coberta por uma onda. Ou um elefantinho gira a tromba freneticamente, exibindo-se para garças ao redor.
Qual seria a metáfora por trás dessas imagens? Ou não passariam de uma singela diversão para atrair todo tipo de público? A chave pode estar nas reflexões que padre Fábio costuma postar. Algumas delas:
- A felicidade não é lógica.
- A realidade é crua.
- Simplicidade é um conceito que nos remete ao estado mais puro da realidade.
- Estamos no que falamos, mas também no que ocultamos.
- É na força da história que descobrimos os rastros do sagrado.
- O atrevimento pode nos tornar adeptos da ignorância ou da sabedoria.
- As chaves de nossas prisões emocionais continuam em nossas mãos.
- Deus me dá aos poucos, em partes, dia a dia, em fragmentos.