Melhores amigos não são apenas pessoas com as quais gostamos de sair, mas nas quais confiamos completamente. Na infância, tendemos a tratá-los como membros da família. Na vida adulta, sabemos que podemos procurá-los nos bons e maus momentos.
Por volta dos quatro anos, as crianças desenvolvem a compreensão de que os outros podem ter pensamentos, interesses e sentimentos diferentes dos seus. “Elas conseguem imaginar melhor a perspectiva do outro e isso fomenta amizades mais íntimas”, diz à BBC a psicóloga clínica Eileen Kennedy-Moore, autora de um livro sobre o tema, Growing Friendships: A Kids’ Guide to Making and Keeping Friends.
Segundo Kennedy-Moore, as crianças têm, com frequência, uma visão pragmática da amizade, formando vínculos fortes com colegas no parquinho ou sala de aula. “É uma abordagem ‘ame aquele com o qual você está’”, define.
Para a psicóloga, é uma vantagem para as crianças o fato de estarem num ambiente com outras 25 crianças nessa fase da vida. “Na vida adulta, é preciso um esforço deliberado para encontrar e cultivar amizades”, observa.
AMIZADES FORTES NA INFÂNCIA, BENEFÍCIOS POR TODA A VIDA
Psicólogos afirmam que um “melhor amigo” pode ajudar a criança a se preparar para relações próximas quando ela cresce, incluindo as românticas.
“O melhor amigo é como se apaixonar”, diz Kennedy-Moore. “Amizades próximas na infância ajudam as crianças a praticar as habilidades de que elas precisarão em relações íntimas ao longo da vida. Elas aprendem sobre outras pessoas e sobre si mesmas, e aprendem a lidar com sentimentos como solidão, ciúme e frustração.”
Se as crianças não falam sobre amigos em casa, isso não significa que não os tenham, afirma a psicóloga. Pode ser que prefiram um estilo mais discreto de interagir com os outros, acrescenta, lembrando que pais podem apoiar filhos a formar amigos organizando encontros fora da escola, em especial para atividades condizentes com suas personalidades.
Especialistas concordam que o desenvolvimento de amizades fortes na infância pode ter benefícios pelo resto da vida, incluindo boa saúde física e mental. Pesquisas já mostraram que amizades próximas têm um impacto positivo sobre a saúde cardiovascular e sobre o sistema imunológico. Indicaram também que podem trazer mais benefícios para a saúde do que parar de fumar, perder peso ou se exercitar.
Um estudo em Harvard iniciado em 1938, durante a Grande Depressão, e que acompanhou setecentos homens durante toda a sua vida, mostrou que a satisfação deles com seus relacionamentos na faixa dos 50 anos de idade era um indicador melhor de que teriam uma boa saúde física mais tarde na vida do que seus níveis de colesterol.
RESILIÊNCIA MAIOR EM CRIANÇAS DE FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA
Embora alguns estudos se refiram a um melhor amigo em especial, as análises em geral indicam que o número de amigos não tem importância. O benefício estaria na qualidade e reciprocidade da relação.
Vínculos de amizade podem ser essenciais para ajudar as crianças a lidar com desafios na vida e superar adversidades, afirmam estudos. Aquelas que têm um melhor amigo tendem a se sentir menos sozinhas, a ter menos depressão, a se valorizar mais e a lidar melhor com circunstâncias difíceis.
Professora de psicologia da Universidade de Sussex, no Reino Unido, e autora de um estudo sobre como amigos podem ajudar crianças de famílias de baixa renda a lidar com circunstâncias difíceis, Rebecca Graber sentencia: “Crianças com uma qualidade maior de amizades demonstraram, em associação com uma resiliência psicológica maior, uma capacidade melhor de enfrentar dificuldades num bairro de baixa renda.”
Graber afirma que, durante a infância, as amizades mudam o tempo todo, e que pode ser difícil para uma criança quando melhores amigos se distanciam ou vão embora. “Não há um ritual para crianças sofrerem a perda dessa relação”, analisa. Por isso, diz ela, é importante que os pais discutam isso com os filhos e os apoiem durante o processo.
Com informações do artigo de Isabelle Gerretsen para a BBC Future.