Desde que entrei no mercado de trabalho ouço falar de softskills e hardskills. E posso dizer que já ouvi diversas definições sobre ambas. As que me fizeram maior sentido dizem que as soft são competências relacionais, que fazem com que estabeleçamos uma melhor interação com colegas, clientes e chefes, tais como relacionamento interpessoal, capacidade de escuta, marketing pessoal, networking e outras como oratória, resiliência e empatia. As softskills são facilmente ensinadas e possuem uma quantidade enorme de literatura por aí.
Já as hardskills são competências técnicas, que precisam ser dominadas para a execução de uma atividade que demanda conhecimento específico. Análise financeira é um bom exemplo. Aqui estamos falando de uma competência que leva mais tempo para ser incorporada diante da complexidade exigida. Em muitos casos, são precisos cursos de formação específicos, horas de prática, treino, acompanhamento. Competências como gestão de projetos, programação, design instrucional, contabilidade, confeitaria só são dominadas depois de árduo investimento em tempo e energia.
Um comandante, para pilotar um avião precisa ter hardskill para decolar, voar e aterrissar, mas também precisa de softskill para se comunicar adequadamente com a tripulação e os passageiros.
A boa combinação entre hardskills e softskills fazia um profissional se destacar e crescer na carreira. Mas agora o mercado já fala de um terceiro tipo de competência: as powerskills.
O nome é empolgante! É como se falássemos de superpoderes para que um profissional fizesse uma diferença radical em sua empresa. Um exemplo vinculado ao futebol ficará bem fácil de ser compreendido. Imagine que seu time de futebol contrata um atacante. Você rapidamente imagina que haverá um melhor resultado nos próximos jogos. Mas depois descobre que esse atacante é Cristiano Ronaldo. Enquanto um atacante convencional tem soft e hardskills, Cristiano chega com suas powerskills. Fará toda a diferença. Não só ele faz gols mas também dribla, atrai patrocínio, público, joga limpo e dá show.
E no mundo corporativo não é diferente. Existem algumas competências que já despontam como powerskills. Profissionais que as desenvolverem se destacarão frente a um mundo Bani (frágil, ansioso, não linear e incompreensível). E aqui vão elas:
- Crisis Management: Aqui colaboradores e líderes equilibram quesitos de proteção do business e ao mesmo tempo detecção de oportunidades. Esta habilidade é uma das mais relevantes na atualidade com o intuito de identificar como ganhar share, ampliar o número de clientes, desenvolver novos produtos e aproveitar que a maioria dos concorrentes adotam uma postura comedida, sem excessos ou ousadias. Crisis Management é proteger o território e ao mesmo tempo avançar no mercado, com fortes sprints para melhorar indicadores e antecipar o forecast. Líderes que dominam esta powerskill estão saindo na frente, já que o medo não paralisa a operação.
- Adaptabilidade: Todas as empresas têm políticas, processos, sistemas e governança. Ao longo do tempo, essas “molduras” disciplinaram o modo como as coisas eram feitas dentro da empresa. A powerskill de adaptabilidade é uma revisão geral de todos esses aspectos que compõem a empresa. Como tornar a companhia mais flat, mais ágil, com certo nível de “caordicismo”, com o mínimo de políticas (para não engessar a criatividade) e ao mesmo tempo não deixar que a anarquia impere. É possível ter uma estrutura organizacional diferente? Artefatos de cultura diferentes? Precisamos de tudo isso que temos hoje? Para uma empresa voar ela precisa ser leve. Quanto menos processo houver, mais rápida ela progredirá.
- Ousadia: Competência que se parece muito mais com uma softskill, mas não é. Esta habilidade diz respeito a provocar que o negócio se reinvente completamente, mas não sem antes da realização de diversos testes. Da mesma forma que um ambulante que vendia guarda-chuvas antes da pandemia passou a vender máscaras, as empresas podem e devem enxergar como criar mais fontes de receita. Aqui não se trata apenas de lançar mais produtos ou serviços, mas testar parcerias, avaliar se é possível compartilhar com concorrentes setores de backoffice em comum, lançar novos canais de vendas, investir em marketing segmentado ou subsegmentado, ser mais agressivo em promoções, preços, lançar uma nova marca, um novo business. Ousadia é propor o que não se proporia em condições normais. O novo normal é não ter acesso a todos os indicadores e ainda assim propor mudanças.
- Companheirismo: Esta powerskill não tem nada a ver com colaboração ou cooperação. Aqui estamos falando em “irmandade”. Pessoas que estão compradas de maneira tão forte com a ideia de fazer o business prosperar que não ficam se perguntando “o que vão ganhar com isso”, pois têm a certeza de que vão ganhar muito. Aqui a lógica é criar um grupo de “300 de Esparta”. Profissionais com alto conhecimento do negócio, que compartilham informação, não se veem como concorrentes internos e estão absolutamente alinhados à estratégia da empresa. São pessoas que não veem diferença entre líderes e liderados. Todos se veem no mesmo patamar. Não se veem como uma família, pois mesmo nas melhores famílias existem problemas. Aqui, são “irmãos e irmãs de sangue”. Uma aura de fidelidade, harmonia, cumplicidade e comprometimento une as pessoas.
- Sherpianismo: Esta competência é curiosa e diz respeito aos líderes. O povo Sherpa vive no Himalaia, ao lado do Monte Everest. Seu principal trabalho é levar alpinistas ao topo da montanha para que realizem seus objetivos. Portanto, o trabalho de um guia Sherpa é fazer com que o alpinista não morra, siga os melhores caminhos para alcançar o sucesso e que volte em segurança. O guia Sherpa sequer aparece na foto quando o alpinista alcança o topo da montanha. Aliás, é ele quem tira a foto. Líderes sherpianos formam “alpinistas” corporativos. Dão os caminhos, treinam incansavelmente seu time, identificam seus sonhos, os levam até o topo do mundo e não se importam de não aparecer na foto, pois o próprio ego é o primeiro a ser controlado nesta relação.
Estas são as powerskills do momento. Como você e seus líderes estão em relação a essas competências? Claro! Não são fáceis de serem desenvolvidas, mas temos diante de nós uma grande oportunidade de fazer com que esta nova realidade premie, de fato, aqueles que fazem a diferença no negócio e na vida das pessoas.
Alberto Roitman, Chief Chaotic Officer na Escola do Caos, podcaster no Caos Corporativo e autor dos livros Você é o que você entrega! e A última chance! (ambos pela Garimpo).