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Quando há decepção

Já escrevi sobre amor, ciúme, raiva, mas hoje resolvi conversar sobre decepção. Sentimento que causa uma das maiores dores emocionais no ser humano. Uma dor intensa, que deriva das expectativas que depositamos em pessoas nas quais confiamos e de quem esperamos fidelidade, lealdade ou no mínimo um tratamento justo.

Várias são as formas de decepção. A esposa ou o marido que traiu, o filho que renega o pai, o irmão que roubou, o chefe que te demitiu por motivo torpe, o amigo que virou as costas quando você mais precisou, a empresa que prometeu e não cumpriu, o político que conquistou seu voto mas mudou do uísque para o aguardente assim que eleito, o parceiro que vazou um segredo que devia seguir trancado a sete chaves. Decepcionar-se leva a uma sensação de inconformismo. Fica difícil entender por que alguém no qual depositamos tanta confiança agiu de tal forma, maculando o bom sentimento que por ele nutríamos.

Criamos expectativas, ainda que de forma sub ou inconsciente. Esperamos do outro a mesma atitude que tomaríamos, caso no lugar dele estivéssemos. Todavia, vez ou outra tomamos um tapa na cara do destino, principalmente ao nos certificarmos de que o outro não sou eu, não é você, não agiria como eu, muito menos como você. O outro é apenas o outro. Um outro. E você, bem, você que se vire.

Cada um de nós carrega conceitos e crenças, temos caráter e personalidade próprios. Alguns tomam atitudes que, sem querer ou de propósito, ferem outras. Quem sofre uma decepção, em geral mal sabe como agir a partir de então. Após experimentar a dor que lhe afligiu, deixa-se levar por uma atitude vingativa – ou defensiva. Nisso, sem se dar conta, acaba por se nivelar ao agressor. O melhor a ser feito, talvez, seja nada fazer. O que, convenhamos, é difícil. Por sermos passionais.

É preciso deixar o primeiro impacto ser absorvido por total. Só após o fim da turbulência, mais tranquilos, miramos para dentro de nós. Nisso, ao tirarmos o foco de quem nos decepcionou, de preferência tomando o correto distanciamento dos fatos, analisamos a real importância que o dito ou feito ou os envolvidos têm em nossa vida. Do fim do túnel, sairemos fortalecidos. Nos dando ainda mais valor. E ao outro, o valor devido. Seu real valor.

Se você, neste exato momento, sente mágoa ou algo afim por ter se decepcionado com alguém, procure, se possível, o diálogo. Não com o dito cujo, mas com sua consciência. Depois, sim, se o outro ainda tiver o mínimo de valor para ti, aja de forma natural, mas sendo franco, direto e honesto consigo mesmo.

Hombridade é a palavra. A sua dignidade, acima de tudo. Afinal, o desdobramento de um confronto magoado pode vir a ser infausto. O importante é estar ou ficar em paz consigo mesmo. Se achar que ainda não é a hora, espere mais. Caso contrário, qualquer dito ou não dito haverá de ampliar aquela decepção.

Bolas de neve pueris tendem a, sem controle, virar avalanches demolidoras.

Por Marcos Eduardo Neves

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