Em tempos de desentendimentos, divergência de informações e verborragia nas redes sociais, a comunicação não violenta se apresenta como uma ferramenta poderosa para manter as relações saudáveis. Reúne um conjunto de técnicas que estimula a conexão e permite uma melhor expressão, utilizando-se do conceito de escuta ativa.
Especialista em comunicação não violenta e empatia, Marie Bendelac afirma ao R.evolution Club que é importante evitar atitudes como julgamento e comparação, que provocam reações. “Alguns padrões de comunicação tendem a aumentar a violência”, diz ela. “É preciso nos conectarmos com a nossa humanidade e com a humanidade do outro.”
Bendelac destaca a importância de estabelecer uma relação de confiança com o interlocutor, demonstrando empatia e interesse, o que se aplica a relações profissionais e pessoais. Para aprimorar relacionamentos e resolver conflitos, ela criou o método Conecta. A palavra que dá nome ao método é formada pelas primeiras letras de sete passos:
- Curiosidade
- Ouvir
- Não julgar
- Empatizar
- Checar
- Transição
- Autenticidade
Para a especialista, é preciso tomar mais consciência de nossas atitudes reflexas, que nos levam a retrucar ou nos calar diante de algo que nos desagrada – fazendo de nós vulcões ou engolidores de sapos, como ela define. “Há um caminho do meio, que é parar para pensar e evitar responder de forma automática. É optar pelo caminho da escuta e da conectividade. Exercitar a curiosidade e não deixar de se posicionar.”
FADIGA PANDÊMICA É ASSOCIADA A DÉFICIT COGNITIVO
Ao explicar ao El País os benefícios da escuta ativa, o neuropsicólogo José Antonio Portellano Pérez disse que “quando sentimos que nos ouvem e nos compreendem estamos facilitando a livre expressão de nossos sentimentos”. Quando uma pessoa se sente compreendida, afirmou, há alterações positivas em seu estado emocional, o que repercute sobre o cérebro e a saúde mental.
Portellano identifica efeitos nocivos nas redes sociais, onde os canais de comunicação ajudam a amplificar a repercussão de opiniões. “Isto facilita que as pessoas mais vulneráveis e imaturas sejam influenciadas excessivamente por determinadas informações e, igualmente, as personalidades narcisistas encontram nas redes sociais um mecanismo para se projetar e se sentirem reforçadas”, disse ele. “Prepondera o afã de falar sobre a necessidade de que nos ouçam.”
A escuta ativa, afirmou o neuropsicólogo, atua para frear “o excesso de ego de muita gente que quer acima de tudo ser ouvida, mas sem precisar ouvir”. E a fadiga pandêmica, acrescentou, traduz-se em déficit cognitivo: “A incomunicação forçada a que fomos submetidos durante o confinamento e as dificuldades de interagir com outras pessoas geraram um claro desgaste psicológico em muita gente, associado a um aumento da ansiedade e dos sentimentos de desproteção.”
Para praticar a escuta ativa, Portellano recomenda:
- Não fazer comentários desnecessários e deixar o interlocutor à vontade e falando de forma fluida.
- Resumir periodicamente o que o interlocutor acabou de dizer, para que ele tenha consciência de estar sendo escutado.
- Não interromper nem formular julgamentos sobre o que ouvimos.
- Fazer perguntas relevantes para esclarecer uma informação. Assim, o interlocutor percebe que temos interesse pelo que ele diz.
- Pôr-se no lugar do interlocutor e não centrar nos próprios sentimentos ou opiniões.
- Manter contato visual adequado, cara a cara, para demonstrar interesse sincero pelo que é dito, e com postura relaxada.
A abordagem da comunicação não violenta foi sistematizada nos anos 1960 pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, tendo surgido no rastro de movimentos por direitos civis. Introduzida na mesma década, a técnica da escuta ativa foi criada por outro psicólogo americano, Carl Rogers. Ambas passaram a ser utilizadas em psicoterapia.