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Reter memórias é tão importante quanto esquecer

Uma nova abordagem em estudos sobre memória está ganhando espaço no campo da neurociência. Ao invés de estudar a forma como as memórias importantes são retidas, pesquisadores estão focados em entender como as memórias são descartadas. A ideia é compreender como nossa mente seleciona o que é preciso guardar e o que pode ser esquecido.

Células do esquecimento

Em matéria sobre o tema publicada pela Quanta Magazine foi ressaltado o trabalho dos pesquisadores Ronald Davis and Yi Zhong, que anunciaram em 2016 e 2017 respectivamente a ideia de que existem “células do esquecimento”, capazes de degradar os engramas das células de memória.

Davis descobriu a importância da dopamina para regular e selecionar lembranças em moscas drosófilas. A explicação que Davis e sua equipe propuseram é que, depois que uma nova memória se forma, o mecanismo de esquecimento com base na dopamina começa a apagá-la. Segundo os pesquisadores isso acontece porque as células tendem a voltar ao estado inicial pré-aprendizado, a não ser que o pensamento seja de algum modo reconhecido como importante. Então o engrama é preservado por meio de um processo de consolidação, que mantém um equilíbrio entre o que é aprendido e esquecido.

Já Zhong apontou a inibição de uma proteína específica chamada Rac1 nos neurônios do hipocampo prolongando a retenção de memórias. Aumentar a atividade de Rac1 reduzia o tempo de existência da memória pela metade.

Em pesquisa escrita em conjunto por Zhong e Davis esses achados sugerem que os processos celulares mediados pela dopamina e pela Rac1 constantemente corroem as memórias recém-formadas. A conclusão é que nosso cérebro está condicionado ao esquecimento, e não para reter memórias, e que fatores externos são fundamentais para nos lembramos de fatos e vivências específicos.

Uma nova abordagem

Se levarmos em consideração que grande parte das nossas experiências diárias que fazem parte da nossa vida consciente estarão esquecidas a médio prazo, essa nova abordagem baseada no que o cérebro põe de lado, e não no que é mantido, pode explicar sobre como esse sistema determina a importância de certas experiências em detrimento de outras. A chave, portanto, seria compreender como esquecemos certas coisas, e por que não nos esquecemos de outras.

A comunidade científica está em busca de formas de entender como o processo de esquecimento pode ser manipulado a partir dessa nova perspectiva. Em tese, não seria muito diferente de estudar o funcionamento do sistema digestivo, por exemplo, ou controlar mecanismos excretores no organismo. Manipular esse processo oferece esperança para pacientes de Alzheimer e novas formas de tratamento para sobreviventes de situações traumáticas. As implicações éticas, porém, devem ser levadas em consideração à medida que esse campo do conhecimento evolui.

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