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Tempos de menos tolerância a excessos no trabalho

Entre as mudanças de hábito geradas pela pandemia, é evidente a transformação no modo como as pessoas se organizam para trabalhar. E aqui não se trata apenas de trocar o escritório pelo home office, mas de constatar que é possível ter uma vida profissional menos desgastante e não deixar de lado os cuidados com a saúde física e mental.

Para Lourdes Díaz, funcionária de uma empresa de tecnologia, o trabalho remoto mostrou que é possível conjugar melhor tarefas profissionais com atividades pessoais, estressando-se menos. “Vi que outra forma de trabalhar é possível e já não quero voltar a como era antes”, disse ela ao El País. “Cheguei a fazer jornadas de dez e onze horas no escritório, mas já não estou disposta a viver pelo – e para – o trabalho.”

Se algumas empresas optaram por abolir completamente o trabalho em escritório, fechando e desalugando espaços físicos, outras o mantêm para atender a funcionários que preferem deixar o ambiente doméstico para dar conta de suas tarefas. Mas não há dúvida de que as ofertas de trabalho remoto só fizeram aumentar.

A grande questão em jogo nessas novas formas de organizar o trabalho é o uso do tempo. Para muita gente, deixou de fazer sentido perder uma hora do dia no deslocamento para o trabalho. É aí que outro elemento importante é levado em conta: a qualidade de vida. Antes comum em certos ambientes profissionais, a sobrecarga de trabalho tornou-se uma condição menos aceita.

 

VERBALIZAR SITUAÇÃO VIVIDA PARA OBTER RESPOSTA DA EMPRESA

Sintomas como ansiedade, estresse e desânimo são comumente descritos como decorrentes de sobrecarga de trabalho. E passaram a ser descritos como característicos de uma síndrome reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como burnout, ou esgotamento profissional.

Não que o trabalho remoto seja um antídoto para excessos. Entre aqueles que o adotaram, uma reclamação comum é o incômodo de receber telefonemas e mensagens de trabalho durante as horas de descanso. Tanto, que algumas empresas passaram a adotar limites de horário de forma a evitar que seus funcionários se sintam trabalhando 24 horas por dia. Quando isso não acontece, caberia aos funcionários não ceder a esses excessos.

Especialista em comunicação digital, Cristina Pérez afirmou que, num ambiente profissional precário, as empresas não param para pensar em como as relações de trabalho afetam os funcionários porque os veem apenas como “instrumentos de produção”. Não bastasse isso, chegam a rotular de fraco um funcionário cuja saúde esteja abalada, em vez de tentar descobrir o motivo do problema.

Para a psicóloga Alba Fernández Zamora, se um funcionário se sente sobrecarregado, deve verbalizar a situação vivida na tentativa de obter uma resposta da empresa. “Às vezes, pensar que podemos fazer tudo com pontualidade nos faz entrar numa dinâmica de dar mais de cem por cento por longos períodos de tempo, o que a longo prazo diminui a produtividade e aumenta o desconforto”, disse ela. “Conversar com a empresa facilita o ajuste da carga de trabalho de acordo com a capacidade do funcionário, para que ele não se sinta sobrecarregado e haja um ambiente de trabalho saudável e produtivo.”

 

Com informações de artigo de María Sanchéz Sanchéz para o El País.

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