Os aerossóis são um fator importante na poluição do ar, sendo um dos maiores responsáveis para o aquecimento global de produção humana junto com a emissão de gases de efeito estufa. O impacto desses fatores é consenso entre a comunidade científica, mas de acordo com uma pesquisa publicada semana passada na revista Science pela Universidade Hebraica de Jerusalém, as propriedades de resfriamento global presentes nos aerossóis foram grosseiramente subestimadas.
Os aerossóis são pequenas partículas que flutuam no ar, formadas naturalmente por finas partículas de poeira ou artificialmente, como é o caso da fumaça de exaustão fabril e carburadores de veículos. Os aerossóis refrigeram nosso ambiente aumentando a cobertura de nuvens que refletem a luz do sol de volta ao espaço, diminuindo a retenção de calor.
Para entender esse processo, é preciso ter mente que a composição das nuvens é largamente determinada por aerossóis. Quanto mais partículas de aerossol contiver uma nuvem, mais pequenas gotas de água ela conterá. A chuva acontece quando essas gotículas se unem. Uma vez que leva mais tempo para pequenas gotículas se unirem do que para gotículas grandes, as nuvens cheias de aerossóis ou “poluídas” contêm mais água e pairam pelo céu por mais tempo enquanto esperam que as gotículas se conectem e caiam. Enquanto isso, as nuvens carregadas de aerossol refletem mais energia solar de volta ao espaço, resfriando assim a temperatura geral da Terra.
Mas até hoje todas as estimativas sobre o impacto dos aerossóis no resfriamento global não eram confiáveis porque era impossível separar os efeitos dos ventos que criam as nuvens dos efeitos dos aerossóis que determinam sua composição. A presente descoberta científica foi capaz de fazer essa medição, trazendo consigo informações mais precisas sobre as mudanças climáticas.
O professor Daniel Rosenfeld e seu colega Yannian Zhu, do Instituto de Meteorologia da Província de Shaanxi, na China, desenvolveram um novo método que usa imagens de satélite para calcular separadamente o efeito de ventos verticais e números de gotículas de nuvens de aerossol. Eles aplicaram essa metodologia na cobertura de nuvens baixas acima dos oceanos do mundo entre o Equador e o 40S. Com esse novo método, Rosenfeld e seus colegas conseguiram calcular com mais precisão os efeitos de resfriamento dos aerossóis no orçamento de energia da Terra. E descobriram que o efeito de resfriamento dos aerossóis é quase duas vezes maior do que se pensava anteriormente.
No entanto, se isso é verdade, então como é que a Terra está ficando cada vez mais quente, e não mais fria? Para Rosenfeld, essa discrepância pode apontar para uma realidade cada vez mais profunda e preocupante.
“Se os aerossóis realmente causarem um efeito de resfriamento maior do que o estimado anteriormente, o efeito de aquecimento dos gases do efeito estufa também foi maior do que pensávamos, permitindo que as emissões de gases do efeito estufa superassem o efeito de resfriamento dos aerossóis e apontasse uma maior quantidade de aquecimento global.”
O estudo afirma portanto que os esforços globais para melhorar a qualidade do ar desenvolvendo combustíveis mais limpos e queimando menos carvão podem acabar prejudicando nosso planeta, reduzindo assim o número de aerossóis na atmosfera e, ao fazê-lo, diminuindo a capacidade de resfriamento para compensar o aquecimento global.
Apesar dos erros de cálculo, ainda é possível tomar atitudes pró-ativas para combater as mudanças climáticas que influenciarão a Terra até o fim do século XXI. A emissão dos gases de efeito estufa está diretamente conectada à indústria agropecuária, por exemplo, devido às flatulências dos bovinos. Diminuir o consumo de carne em níveis mundiais é uma medida importante, se não fundamental, para impedir o agravamento desse processo, e contribuir para o desenvolvimento de um mundo melhor para todos.