Certa vez recebi um catalogo da Richards com a frase “Viver cada dia como se fosse único”. Adorei, e procurei manter essa consciência. Sabemos que não é nada fácil porque a mente é viajante nata, e para alcançar essa meta precisa de um estado de presença mental no “agora” que não se conquista em um dia, mas em toda uma vida de prática continuada. Mas sabemos que é a maneira mais sábia e saudável de viver.
Para minha sorte estava de férias em casa, com o único projeto de descansar a mente e o corpo, ficando quieta em silêncio o que facilita muitíssimo. A frase caiu como uma luva nesse momento. Mesmo já estando acostumada a essa prática, fiquei impressionada com a quietude e a sensação de prazer da mente quando a associamos a um ambiente calmo, com poucos estímulos e quase ausência de compromissos, praticamente sem usar o computador nem o celular.
A sensação de “urgência” que causa ansiedade desaparece, a tensão com os acontecimentos diminuem, as inquietações com o futuro tornam-se quase indeléveis, as emoções que desestabilizam a mente não aparecem, e a mente torna-se serena, paciente, focada e muito clara. “Viver cada dia como se fosse único” nessas circunstâncias torna-se muito mais fácil. Na verdade descobre-se um grande prazer.
Mas e agora, como manter? Essa é a grande questão que pode ser tomada como um desafio interessante e estimulante e cujo prêmio, se a meta for alcançada, é altamente compensador. O registro da experiência vivida com o certificado de que “sim é possível”, é fundamental para o engajamento nesse projeto ambicioso de “viver cada dia como se fosse único”, porque ele implica em muitos investimentos: determinação, direção, intenção, consciência de cada pensamento, de cada sentimento, de cada gesto, de cada reação, uso máximo do potencial disponível em cada ação.
Sem querer ser repetitiva me vem mais uma vez o tema das pausas, do qual já falei em outros textos. Das pequenas pausas ao longo de um dia, ensinadas por Thich Naht Hannh. Pequenas, mas eficientes. Nesses curtíssimos momentos de 1, 2 ou 3 minutos várias vezes ao dia, podemos brincar de “faz de conta” que tudo o mais deixa de existir por instantes, desligar o celular, deixar de lado o computador e viajar para o “agora” no movimento da respiração, nas sensações do corpo, numa imagem mental ou em um som. Isso não é uma fuga, é apenas um movimento estratégico, com a meta definida de retirar a mente da pressão externa, dando-lhe um foco que a restaura e revitaliza para retornar ao campo da multiplicidade de estímulos.
Vale a pena ao menos tentar por 4 semanas consecutivas e testar o resultado, porque sem dúvida, a capacidade de mergulhar no “agora” é a chave que abre a possibilidade de “viver cada dia como se fosse único”, desfrutando e investindo em suas oportunidades. Mesmo porque, o estado de nossa mente é o eixo central de nossa vida, nossa maior preciosidade. Define nossa percepção do mundo, nossa relação com a dor e com o prazer. E define em muito nossa trajetória de vida e realização.
Viver inclui desafios diários, não há como escapar. “Viver cada dia como se fosse único” é o desafio a um desenvolvimento onde podemos compreender e valorizar a Vida em um nível mais elevado. Sem dúvida vale muito ir nessa direção em alguns minutos ao longo do dia.”
Por Berenice Kuenerz