A popularidade do aplicativo de namoro Bumble tornou sua criadora, a empresária Whitney Wolfe Herd, uma das mulheres mais bem-sucedidas do planeta e ainda um ícone do feminismo. É que no Bumble quem faz o primeiro contato para o namoro é necessariamente a mulher, e não o homem. Referência no mundo das startups, Wolfe ainda se desdobra como defensora de outras causas sociais, tendo feito doações vultuosas ao movimento Black Lives Matter.
No mês passado, a americana de Utah foi a sensação da Nasdaq ao posar na sede da bolsa nova-iorquina com o filho de um ano no colo, após assinar a abertura de capital do Bumble. As ações da startup dispararam de 43 para 70 dólares. Wolfe viu sua participação de 12% na empresa chegar a 1,6 bilhão de dólares, segundo a Forbes, que em 2020 já a incluíra entre as cem mulheres mais ricas que venceram sozinhas. Aos 31 anos, a CEO se tornou também a mulher mais jovem a abrir uma empresa pública nos EUA.
No Instagram, ela postou: “A qualquer um que esteja passando por um revés, um momento baixo ou uma fase difícil. A qualquer um que se sente sem poder em suas relações – ou que tenha tido a coragem de dar o primeiro passo para relações mais saudáveis. O dia de hoje é para você. Este é o resultado de recomeçar quando parece que é o fim. É um testemunho de novos começos, novos paradigmas e novas normas. O dia de hoje mostrou que barreiras podem ser rompidas quando acreditamos num caminho melhor.”
Em sua mensagem, Wolfe estava claramente se referindo ao revés que a levou dar a volta por cima e conquistar seu maior sucesso empresarial. Em 2014, dois anos depois de ajudar a lançar o Tinder, popular site de namoro do qual era vice-presidente, ela deixou a empresa, processando o ex-chefe e ex-namorado Justin Mateen, bem como outro fundador, Sean Rad, por assédio sexual e discriminação. Mateen reagiu com ameaças e agressões, e ela acabou sendo indenizada em US$ 1 milhão.
RESPEITO COMO CONDIÇÃO PARA UMA BOA RELAÇÃO
Nem bem deixou o Tinder, Wolfe se associou ao bilionário russo Andrey Andreev para lançar o aplicativo que a tornaria uma defensora da igualdade de gênero. Em carta postada no Bumble, ela contou como teve a ideia:
“Era 2014, mas muitas mulheres inteligentes e maravilhosas em minha vida ainda estavam esperando que os homens lhes chamassem para sair, que lhes pedissem o número do telefone ou começassem uma conversa num aplicativo de namoro. Apesar de todos os avanços das mulheres em locais de trabalho e corredores do poder, a dinâmica de gênero em namoro e romance ainda era muito antiquada. Eu pensei, e se pudesse inverter isso?”
Presidente do Bumble, Tariq Shaukat afirmou ao El País que Wolfe costuma dizer que “a maneira como um relacionamento começa é a maneira como vai terminar”. Ele acrescentou: “Se começa com respeito, continuará a haver respeito. Isso não é só para as mulheres, é também para os homens que querem estar nesse tipo de relação e sentir que isso é o que importa.” A empresária está casada desde 2017 com Michel Herd, herdeiro de uma indústria de petróleo e gás no Texas.
A abertura de capital do Bumble coroou uma carreira pontuada por êxitos, e iniciada cedo. Quando estudava relações internacionais na Universidade Metodista do Sul, no Texas, Wolfe fundou uma ONG que vendia sacolas de bambu orgânico para ajudar a Ocean Futures Society, organização dedicada a proteger os oceanos. Ainda na faculdade, lançou uma linha de roupas feitas no Nepal, promovendo o comércio justo e combatendo o tráfico de pessoas.
Não por acaso, Wolfe já se confessou workaholic. Suas operações hoje se estendem por nove países. E o Bumble vem se diversificando em outros aplicativos: para amigos (Bumble BFF), para contatos profissionais (Bumble Bizz) e para namoros de homens gays (Chappy). Há ainda uma revista impressa, Bumble Mag; um fundo de investimentos, o Bumble Fund; um fundo para filmes feitos por mulheres, o Female Film Force; e uma linha de produtos para pele, Bumble Beauty.
Bruno Casotti é jornalista e tradutor.