“Ama?”, perguntou Alice. “Não, não te amo!”, respondeu o coelho branco.

Alice franziu a testa e juntou as mãos como fazia sempre que se sentia ferida. “Vês? Agora vais começar a perguntar-te o que te torna tão imperfeita e o que fizeste de mal para que eu não consiga amar-te pelo menos um pouco?”, falou o coelho.

E continuou: “Sabes, é por essa razão, que não te posso amar. Nem sempre serás amada Alice, haverá dias em que os outros estarão cansados e aborrecidos com a vida, terão a cabeça nas nuvens e irão magoar-te. Porque as pessoas são assim, de algum modo, sempre acabam por ferir os sentimentos uns dos outros, seja por descuido, incompreensão ou conflitos consigo mesmos. Se tu não te amares, ao menos um pouco, se não crias uma couraça de amor-próprio e de felicidade ao redor do teu Coração, os débeis dissabores causados pelos outros tornar-se-ão letais e destruir-te-ão. A primeira vez que te vi fiz um pacto comigo mesmo: evitarei amar-te até aprenderes a amar-te a ti mesma!” (Alice no país das maravilhas)

Nada mais atual e perfeito do que esse texto de Lewis Carroll. Vivemos essa realidade. Buscamos nos outros a felicidade e o amor que apenas nós podemos nos proporcionar.

Quantas e quantas vezes, nos “mutilamos emocionalmente” pois acreditamos que a culpa é nossa em não sermos amadas(os) por determinada pessoa. Quantas e quantas vezes, deixamos de sorrir por achar que nosso riso estava conectado a alegria que o outro poderia nos proporcionar. Quantas e quantas vezes nos “mutilamos fisicamente”, através de várias plásticas para nos tornarmos as mulheres perfeitas e desejáveis conforme o “mercado social” pede e exige das mulheres.

Não percebemos, que cada vez que cedemos a essas intervenções, dilaceramos a nossa essência. Não tenho nada contra os cuidados com a beleza estética, aliás, isso é bom, só não podemos esquecer quem somos, nem acreditar que uma plástica ou um botox nos trará felicidade.

Se não cuidarmos, todos os dias, da nossa alma, memórias, crenças, medos e inseguranças que carregamos, eles se fortalecerão e nos farão acreditar, assim como Alice, que não somos dignos de ser amados.

Que esse pequeno trecho, dessa linda história, possa nos fazer lembrar, todos os dias, que somos os únicos responsáveis pela nossa felicidade e que ela começa a crescer e se fortalecer no lindo mundo encantado que cada Ser Humano carrega dentro  de si.

Por Renata Salles