Você sabe o que acontece por trás de seu processo de decisão?
Sabe por que em algumas vezes é absolutamente certeiro e em outras parece que foi completamente inexperiente?
Em uma decisão o que conta muito mais que os dados e informações externas, seu conhecimento e experiencia técnica, é o que se passa em seu emocional.
Existe uma diferença fundamental entre ação e reação. Reação é automática. Muito fácil para o cérebro porque tem pouco gasto de energia. Trata-se apenas de um padrão já registrado, automatizado e repetido. Sendo o cérebro o grande administrador de nossa energia, naturalmente o prefere, usando preferencialmente o cérebro límbico bem preparado para isso.
Ação é muito mais requintada. Necessita de outros elementos, como foco, atenção plena, visão de longo prazo, reflexão. Um esquema de modo automático, simplesmente não dá conta disso. A resistência natural do cérebro em usar esse sistema super elaborado, ou seja, nosso cérebro cortical, deve-se ao fato do alto gasto de energia dos córtex, especialmente a córtex pré-frontal que detém a capacidade de visão a longo prazo, visualizando o que ainda não existe, elaborando estratégias, inovando e criando.
A grande questão é que muitas vezes usamos nosso sistema automático econômico em situações que requerem reflexão e visão de longo prazo, decidindo com nosso cérebro límbico e não com o cortical, mais capacitado.
Na reação o espaço entre algum nível de consciência e ação propriamente dita quase não existe, e em alguns casos nem existe.
Você já se percebeu dando uma resposta sem pensar, e que frequentemente depois se arrependeu? É seu sistema automático funcionando. Já tomou uma “decisão” por impulso que custou caro? É provável que não tenha sido uma decisão, e sim uma reação, ou seja, um funcionamento automático. Pode ter sido baseado em registros anteriores, porem cada situação é nova, especialmente em nosso mundo atual onde as mudanças ocorrem em grande velocidade.
Daniel Goleman, que difundiu o termo inteligência emocional com seu livro do mesmo nome, disse: “Talvez não exista uma habilidade psicologicamente mais importante que resistir ao impulso.”
O que estamos chamando aqui de decisão requer um funcionamento amplo do cérebro e um estado emocional que crie o “ambiente” para que esse processamento ocorra nessas instâncias superiores do cérebro.
Quando nosso estado ou ambiente interno emocional é de ansiedade e tensão tenderemos a tomar “decisões” impulsivas com nosso sistema automático altamente treinado para a rapidez, mas nem sempre para a eficácia. Nesse estado emocional podemos não perceber com clareza todos os aspectos de uma realidade.
O estado emocional de medo ou raiva, também tendem a nos impulsionar a “decisões” emocionais, onde podemos perder o foco do que realmente é real (movidos pelo medo) ou de fato importante (movidos pela raiva).
A tristeza tende a fechar nossa percepção de possibilidades futuras, podendo fazer com que tenhamos dificuldade de tomar “decisões” para fora de uma zona de conforto.
Não apenas os estados tidos como negativos, mas também os que nos agradam e que chamamos positivos, podem ser “perigosos para decisões”, quando em excesso.
O entusiasmo exagerado pode nos levar a negligenciar limites de segurança. Autoconfiança exagerada pode nos levar a desvalorizar o valor do concorrente.
Sim, nosso estado ou ambiente interno emocional deve entrar na equação de uma decisão importante.
Existe uma regra simples e básica: Em um estado emocional desfavorável tome um tempo maior para a decisão. Não se trata de procrastinação, mas de estratégia emocional.
Se esse tempo não for possível por diferentes razões circunstanciais, sente-se e equilibre sua respiração, fazendo ao menos 10 respirações diafragmáticas (explicada no final do texto).
Após essas 10 respirações, sinta a si mesmo, perceba seu estado interno, e usando a fantástica capacidade de imaginação da mente, imagine a si mesmo como estará 24 horas após essa decisão, ou ainda uma semana após. Essa técnica faz com que tome distância da situação e a “observe” com menos emocionalidade.
Nenhuma reflexão de qualidade pode ser realizada com a mente agitada, porque qualquer resultado tenderá a vir do sistema automático. Que é ineficaz para temas e decisões importantes.
Como apagar incêndio é mais difícil que prevenir, a prática constante da respiração diafragmática tenderá a ir mantendo seu estado emocional mais regulado, e também será mais fácil de acessar em caso de necessidade por estar sendo praticado.
Como é minha prática constante há pelo menos 30 anos, recomendo com total confiança.
Respiração diafragmática
Sente-se em uma posição confortável, mas na qual possa manter a coluna reta, para facilitar o movimento do diafragma e a entrada e saída do ar.
Feche os olhos e coloque uma mão sobre o abdômen e outra sobre o peito. Inspire e expire com a intenção de mover prioritariamente a mão sobre o abdômen. A mão sobre o peito deverá mover-se quase nada.
Registre em seu cérebro a informação de que durante esse exercício a respiração deve ocorrer no abdômen e não no peito, porque essa é a respiração que acalma seu sistema nervoso.
Agora coloque suas duas mãos sobre o abdômen para tomar mais consciência do movimento, e inspire e expire suave e com ritmo contando mentalmente de 1 a 3 enquanto inspira, segurando o ar por 2 segundos, e expirando contando mentalmente de 1 a 6, segurando vazio por 2 segundos, e recomeçando novo ciclo. Quando puder aumente a contagem do inspirar para 4 e do expirar para 8, sempre mantendo os tempos de 2 segundos de pausas, no cheio e no vazio.
Faça 10 ciclos completos. Quando estiver treinado não precisará usar suas mãos como referência, poderá fazer sem fechar os olhos, e poderá fazer em qualquer lugar porque o corpo terá absorvido o movimento.
Treine diariamente para ter maior benefício em momentos de tensão.
A noite faça deitado antes de adormecer e terá um sono mais reparador, porque entrará no sono em um estado de maior serenidade.