Já se deu conta de que incerteza é uma das palavras mais usadas na atualidade? Saiba que ela veio para ficar. Faz parte de um mundo líquido e Vuca. Mundo líquido é uma expressão criada pelo sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman para designar o mundo pós-moderno onde a estabilidade desapareceu e existe um constante movimento, ou seja, um mundo Vuca – sigla em inglês para volátil, incerto, complexo e ambíguo.
Vamos aprender a lidar com essa nova realidade, mas para isso temos que treinar novas habilidades que não são ensinadas em escolas e universidades. Pelo menos até agora, não de forma relevante.
A coach venezuelana Arianna Martinez Fico afirma que no mundo atual é como se estivéssemos nadando sem poder parar, porque já não existem margens, o mundo está todo líquido. Por isso, diz ela, é essencial desenvolver um estado de presença, em que se flui a cada instante com um olhar sempre renovado. Seria a única maneira inteligente, saudável, produtiva e eficaz de lidar com esse novo mundo.
Precisamos praticar outras duas habilidades: desapego e colaboração. Soltar ideias, hábitos e conceitos, pois tudo perde a validade rapidamente. E colaborar, em vez de competir, o que torna fundamental exercitar a empatia e a compaixão. É o que têm ensinado também líderes como Jeff Weiner, ex-CEO do Linkedin, e Fred Kofman, vice-presidente do Google.
APRENDER A DESENHAR O FUTURO
Nossa grande tentação é dominar a incerteza por meio do controle das situações, na esperança equivocada de que esse é um caminho garantido. Mas nesse mundo em tempo real, como define o consultor e coach americano Jim Selman em seu livro Living in a Real-Time World, o único controle está no modo como respondemos a cada situação.
Ninguém pode prever o que acontecerá em dez anos e estamos atrapalhados por respostas que demos a nós mesmos e não funcionam mais. Portanto, diz Selman, querer certeza é absurdo. Temos que aprender a desenhar o futuro que queremos e fluir a cada momento conforme ele se apresenta, sem resistência. A resistência produz uma tensão interna que ofusca a criatividade e a capacidade de decisão.
Segundo o autor, somente quando aceitamos e nos rendemos à circunstância é que nos tornamos abertos e inteligentes para responder a ela de modo eficaz. Porque quando acontece o que não esperamos ou desejamos, nossa tendência é ficarmos atrapalhados e perdermos a conexão com o fluir. Esse é um mundo onde estamos em estado de presença, percebendo os movimentos e fluindo para escolher como atuar.
É como acontece com o surfista, que não pode prever a onda que virá. Ele tem que aceitá-la e escolher como se relacionar com ela. Se perde esse estado, perde a onda ou cai. O estado de presença e o treino para responder com rapidez definem bastante o surfe da vida.
ADMINISTRAÇÃO DOS ESTADOS DE ÂNIMO
Outras habilidades fundamentais no mundo em tempo real de Selman são a autoinovação e a administração dos estados de ânimo. A autoinovação permite acompanhar a velocidade do mundo. Já os estados de ânimo influenciam o modo como lidamos emocionalmente com cada circunstância.
A conclusão é que as habilidades que precisamos praticar nesse novo mundo são: estado de presença (mindfulness), aceitação (não resistência às circunstâncias), desapego (soltar o que não funciona), autoinovação (mente aberta) e liderança dos estados de ânimo.
Navegar sem direção definida é sempre ineficaz. No mundo em tempo real, pode ser catastrófico. É preciso ajustar o rumo a cada circunstância e na velocidade que se apresentar. A pergunta que se faz a cada necessidade de ajuste é: Com o que estou comprometido?
Você tem claro com o que está comprometido nesse mundo em que a incerteza é a certeza?
Berenice Kuenerz é psicóloga e coach de mindfulness.