Uma nova categoria de alimentos vem ganhando força no Brasil: a carne vegetal processada. São produtos criados para atender ao crescente público consumidor vegetariano e vegano. Têm cara e gosto de hambúrguer, têm cara e gosto de frango, mas são feitos de proteína vegetal. Quem pensa que está se alimentando bem pode se enganar, embora em geral eles tenham bem menos ou nenhum conservante, colorante e antibiótico, ingredientes comuns em alimentos processados. O grande apelo da categoria é a preservação do meio ambiente.
“O principal objetivo é reduzir os impactos ambientais dos alimentos animais, diretamente ligados ao aquecimento global e à destruição das florestas”, explica a nutricionista Alessandra Luglio, especialista em foodtech. Segundo pesquisadores do Museu Emílio Goeldi, em Belém, a pecuária responde por 80 por cento da destruição da floresta amazônica. O gado é também uma fonte considerável de emissão de carbono.
O termo foodtech se refere ao uso de tecnologia para aprimorar a agricultura, a produção e o fornecimento de alimentos. As proteínas vegetais são consideradas alimentos foodtech. Estão alinhadas com uma produção mais sustentável, apoiada pela tecnologia.
DINAMISMO PARA SUPRIR NECESSIDADES
A nova forma de atuação da indústria alimentícia vem sendo adotada por empresas de vários países para a construção de uma rede de alimentos mais dinâmica. A tendência vai de encontro à tese da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) de que até 2050 a produção de alimentos precisa aumentar 70% para suprir as necessidades mundiais.
No Brasil, a Fazenda Futuro chegou na frente. Inaugurada no ano passado, no Rio de Janeiro, a empresa oferece hambúrguer, carne moída, almôndegas e até uma linguiça que não deixa nada a dever aos embutidos de porcos, tanto em sabor quanto em textura. A empresa utiliza ingredientes como beterraba, ervilha, grão de bico e soja. E já exporta para países da Europa.
Luglio considera os produtos da Fazenda Futuro de boa qualidade, por não conterem ingredientes artificiais. Embora concorde que os processados de proteína vegetal sejam mais saudáveis que os de proteína animal, ela assinala: “Nunca a proposta foi a de serem alimentos saudáveis. Eles convêm a quem não quer abrir mão dos processados sem impactar o planeta.”
TORTAS, BURGUER E NUGGETS
Vegetarianos e veganos também podem optar pelos alimentos da linha Veg&Tal, da Sadia. Lançada em março, com farta campanha publicitária, a linha é formada por enquanto por duas tortas, burguer de vegetais e nuggets de vegetais. Os produtos contêm aromatizantes e espessantes. E os ingredientes das tortas incluem laticínios e ovos, rejeitados por veganos. Em breve, a maior empresa de alimentos processados do país promete lançar um bacon vegetal.
Quando chegaram ao mercado, os alimentos vegetais da Sadia encontraram um concorrente de escala industrial: a linha Incrível, da Seara, presente em prateleiras de supermercados desde dezembro. Os produtos da linha incluem coxinha de frango, hambúrguer, salsicha e quibe. Tudo vegetal.
A Seara, pertencente à empresa JBS, afirma ter chegado à novidade a partir de pesquisas científicas de um núcleo de especialistas em aroma, textura e paladar. As pesquisas levaram a uma biomolécula capaz de reproduzir a suculência de carnes em alimentos confeccionados com proteína vegetal. A empresa explica: “O Incrível.Lab é o hub de inovação da Seara focado em refeições meatless (sem carne). A novidade é inspirada nas foodtechs mais avançadas do mundo, sem abrir mão do nosso valor mais antigo: o sabor.”