Há quem o considere um hábito ultrapassado, ou contraproducente, ou ainda um sinal de preguiça, mas estudos indicam que o costume de tirar um cochilo depois do almoço tem inúmeros benefícios à saúde: melhora a memória, o estado de alerta, a disposição, a criatividade, a produtividade e o apetite sexual. Também pode reduzir o estresse, ajudar a perder peso e manter a aparência jovem – por isso mesmo é chamado de “o sono da beleza”.

Especialista em medicina do sono, a pneumologista Fernanda Chibante recomenda um cochilo diário de vinte a trinta minutos, que comprovadamente tem efeitos positivos sobre o desempenho cognitivo. Um sono de uma hora de duração ou mais, no meio do dia, não é aconselhável, diz ela, principalmente para quem faz uso desse recurso a fim de compensar uma noite mal dormida.

“Quem precisa de muito sono à tarde pode estar se privando de sono à noite”, afirma Chibante ao Revolution Club, lembrando que em geral as pessoas precisam de sete a nove horas de sono por noite para atravessar bem o dia.

GANHO DE DESEMPENHO E CRIATIVIDADE

Em palestra no TEDxUCRSalon divulgada no YouTube, a professora de neurociência cognitiva da Universidade da Califórnia Sara Mednick prega: “Precisamos descansar. Precisamos fazer mais intervalos. Porque fazer intervalos faz parte da vida. Faz parte de ser ativo, de ser produtivo e ter resistência, faz parte de ser criativo e ser feliz.”

A ciência mostra que o sono é importante para restaurar nossas funções básicas, diz Sara, autora do livro Take a Nap! Change Your Life (Tire um cochilo! Mude sua vida) E a ciência sabe disso por meio da observação de pessoas que não dormem bem, assegura a especialista. Elas sofrem alterações no metabolismo, o que muita vezes as faz comer mais gordura e açúcar e, portanto, ganhar peso mais rapidamente. Outro efeito do sono ruim é um maior risco de doença cardiovascular, depressão e prejuízos à cognição.

Sara levou pessoas a seu laboratório repleto de camas para submetê-las a um teste simples de memória visual, realizado em momentos diferentes do dia: às 9h, ao meio-dia, às 16h e às 19h. E constatou que o desempenho delas diminuiu ao longo do dia. Então a especialista buscou motivações para melhorar o desempenho de suas cobaias. Ofereceu-lhes dinheiro, café e as deixou descansar de olhos fechados (sem dormir) por algum tempo. Os resultados do teste não mudaram. O único recurso que fez o desempenho dos participantes retornar aos níveis normais, ou até melhorar, foi um bom cochilo. O ganho de criatividade registrado nesses testes após uma soneca foi de 40%.

Sara afirma que durante o sono o cérebro faz coisas que não faz quando você está acordado. Quando estamos acordados, somos constantemente bombardeados por novas informações. Quando dormimos, “desligamos o mundo externo e internalizamos. Começamos a restaurar nossos tecidos e ossos, promovemos crescimento, começamos a proteger todas as nossas novas memórias e as consolidamos numa memória de longo prazo.”

DICAS DE HIGIENE DO SONO

Embora tradicional em países como Espanha e Itália, a sesta é um hábito cada vez menos frequente nesses mesmos lugares. “Vivemos um mundo de privação de sono”, diz a doutora Fernanda Chibante. “As pessoas dormem cada vez menos por conta de uma relação intensa com a tela.” A especialista recomenda a adoção de hábitos de “higiene do sono”. Alguns deles:

• Ter um horário regular para dormir e acordar
• Escurecer o quarto antes de dormir
• Dormir em quarto ventilado e com temperatura confortável
• Evitar tomar café menos de seis horas antes de dormir
• Evitar beber álcool menos de três horas antes de dormir
• Evitar exercícios físicos menos de duas horas antes de dormir
• Evitar ficar olhando para uma tela (computador, celular ou televisão) menos de uma hora antes de dormir.

A luz – seja a da tela ou qualquer outra – inibe a melatonina, hormônio indutor do sono, lembra a doutora. A hora final antes do sono, diz ela, deve ser aproveitada como um período de relaxamento. Uma boa prática para isso, sugere, é a meditação.