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Filipinos fazem máscaras ecológicas com planta nativa

A Sociedade Americana de Química estima que a cada mês deste ano estão sendo descartadas, no mundo, 129 bilhões de máscaras e 65 bilhões de luvas – acessórios usados para evitar o contágio da Covid-19. Nas Filipinas, parte desse imenso lixo não chega a ser um fardo poluente. Ali estão sendo fabricadas máscaras que em dois meses se decompõem no meio ambiente. São feitas de abacá, uma planta nativa desse país asiático.

Também conhecido como cânhamo-de-Manila, o abacá é da mesma família da bananeira (Musaceae). Seu nome científico é Musa textilis. Espessa e resistente, sua fibra se degrada mais facilmente do que, por exemplo, o material da máscara comercial N-95. Especialistas filipinos dizem que sua composição garante boa segurança e proteção contra o coronavírus, sobretudo a profissionais de saúde, mais expostos a riscos.

Com durabilidade semelhante à do poliéster, a fibra do abacá provém do pseudocaule da planta. Nas Filipinas, tem sido usada também para a fabricação de saquinhos de chá e cédulas de dinheiro.

Um estudo do Departamento de Ciência e Tecnologia das Filipinas indicou que o papel feito de abacá é mais resistente à água do que a máscara N-95. Mostrou também que seus poros são capazes de filtrar partículas perigosas, obedecendo aos parâmetros recomendados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.

Ainda há, contudo, resistências por parte de algumas empresas a substituir materiais sintéticos por fibras biodegradáveis. Os motivos passam pelo custo e por dúvidas de que materiais alternativos possam ser fortes e eficazes o suficiente para uso médico.

 

ENCOMENDAS DE CHINA, ÍNDIA E VIETNÃ

O aproveitamento do abacá para a fabricação de máscaras levou a um crescimento exponencial da procura por esse material. Firat Kabasakalli, diretor de uma empresa exportadora de fibras de abacá, afirmou ao Bloomberg que a produção de fios ali dobrou este ano. Apesar de ter um valor mais elevado que o das fibras sintéticas, as fibras do abacá estão sendo encomendadas por fabricantes de equipamentos de saúde chineses, indianos e vietnamitas.

Kennedy Costales, chefe da agência de fibras das Filipinas, disse ao Bloomberg que 10% da produção de abacá este ano poderá ser destinada ao uso médico, em comparação a menos de 1% no ano passado. A intenção do governo filipino é triplicar a produção até 2022.

O abacá é como ouro precioso para as Filipinas, embora tenha sido esquecido porque o governo tem priorizado plantações que alimentam as pessoas”, observou Costales.

As Filipinas são o maior produtor mundial de abacá. Em 2017, responderam por 85% do total de fibras comercializadas, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Com o aumento da procura, o valor da produção este ano é estimado em US$ 100 milhões, disse ao Bloomberg o biocientista Pratik Gurnani, da Universidade de Nottingham, no Reino Unido.

No século XIX, o abacá era usado para fabricar cordas de navios resistentes à água salgada e também para a confecção de papel. No Japão, até 30% das cédulas de dinheiro são feitas com essa fibra.

O abacá é utilizado pela Mercedes-Benz no revestimento do espaço destinado ao pneu sobressalente de carros. Na indústria automobilística, essas fibras naturais não são usadas no seu estado original, e sim combinadas a componentes sintéticos, como o polipropileno. São elas que garantem firmeza e resistência.

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