Pesquisadores de uma universidade americana criaram uma tinta branca capaz de refletir 95,5% da luz solar. Com isso, conseguiram uma redução de 1,7 graus nas temperaturas diurnas dos ambientes e de até dez graus à noite, o que pode diminuir a necessidade de uso de ar-condicionado e, de tabela, diminuir a emissão de CO2. Tintas que proporcionam isolamento térmico já vem sendo usadas em construções, inclusive no Brasil.
“Essa é uma quantidade significativa de poder de resfriamento que pode compensar a maioria das necessidades de ar-condicionado para construções típicas”, afirmou à BBC o professor Xiulin Ruan, que conduziu a experiência americana, realizada na Universidade de Purdue, em Indiana.
Conforme levantamento do World Green Building Council – organização mundial dedicada a construções ecológicas – a iluminação, a calefação e a refrigeração de edifícios respondem por aproximadamente 28% da emissão de CO2 no mundo, associada à mudança climática. A emissão de CO2, neste caso, decorre do tipo de energia consumido na grande maioria dos edifícios, o que inclui carvão, óleo e gás.
Os bons resultados da nova tinta se devem ao acréscimo de uma grande quantidade de partículas de carbonato de cálcio de tamanhos diversos. “A luz solar é um amplo espectro de comprimentos de onda”, explicou o professor Ruan. “Sabemos que cada tamanho de partícula só consegue dispersar um comprimento de onda com eficácia, então decidimos usar diferentes tamanhos de partícula para espalhar todos os comprimentos de onda. Foi uma contribuição importante, que acabou resultando nessa refletância muito alta.”
TINTA TÉRMICA DISPONÍVEL NO BRASIL
Os pesquisadores disseram que a tinta pode se tornar de especial utilidade em centros de dados, que requerem temperatura ambiente baixa. Como não tem componentes metálicos, a tinta não interfere em sinais eletromagnéticos, tornando-se adequada para equipamentos de telecomunicação.
A descoberta dos americanos já está patenteada, mas ainda são necessários testes de confiabilidade e eficiência para que chegue ao mercado. Segundo seus criadores, os principais fabricantes já manifestaram interesse pelo produto.
A Nasa (agência especial americana) é pioneira no desenvolvimento de tintas térmicas. Em 2016, lançou uma tinta térmica à base de água e microesferas de vidro, para ser aplicada na parte externa de aeronaves e tubulações de modo a reduzir o calor interno. Hoje, essa tinta é consagrada internacionalmente como uma das melhores e mais baratas alternativas para isolamento térmico em construções.
Aplicável em qualquer superfície, a tinta da Nasa se mostrou capaz de permitir uma redução de até 60% no consumo de energia em residências e estabelecimentos industriais ou comerciais. Quando aplicada em telhados, é ainda mais eficaz para resfriar ambientes, reduzindo em até 84% o calor provocado pela radiação solar.
No Brasil, a tinta é comercializada pela WC Isolamento Térmico, em São Bernardo do Campo, São Paulo. Como atestou Walter Crivelente Ferreira ao site do Cosol – mercado de energia renovável – seu uso em revestimentos pode dispensar a necessidade de refrigeração em espaços internos. “Se o local for bem ventilado, a sensação térmica no ambiente interno se torna agradável, sem precisar de ar-condicionado”, disse ele.