Logo na primeira aula de um curso de empreendedorismo criativo na Perestroika, um dos professores explicou que criatividade nada mais é do que o resultado de conectar pontos dentro das suas experiências para resolver um problema. O conselho era aumentar nosso repertório, bagagem de vida e experiências para podermos aumentar nossa criatividade.
O interessante é que não precisava ser algo muito grandioso, revolucionário ou bizarro. A gente não precisava sair da caixa de uma vez, mas poderíamos ir ampliando nossa zona de conforto aos pouquinhos. Desde que de forma constante.
Voltei para casa com isso na cabeça, pensando no que eu faria para dar uma esticada na minha zona de conforto. Então tive a ideia de me desafiar todo dia a fazer algo diferente até o fim do curso, por mais simples que fosse.
Decidi ainda que minha jornada começaria naquele dia mesmo. O único problema é que eram onze da noite e eu precisava acordar às quatro para trabalhar. Não tinha tempo para inventar nada elaborado, só tinha que correr para a cama. Ora… então por que não dormir diferente?
Sentei na cama e fiz minha primeira micromudança. Peguei o travesseiro, joguei-o para onde coloco o pé e a coberta foi para a cabeceira. Iria dormir do lado contrário da cama.
Pensei que não seria nada demais, mas foi megaestranho. Eu me sentia muito deslocada. Perdi o eixo. Era curioso ver meu quarto de outro ângulo. O que diabos aqueles livros estavam fazendo atrás da escrivaninha?
Passei a noite me revirando. Pior ainda foi de manhã. Assim que o despertador tocou, meu corpo automaticamente virou para o lado para o qual fora condicionado a virar nos últimos anos. Fiquei tateando o ar em busca do celular na cômoda durante alguns segundos até me tocar da besteira que estava fazendo.
Na minha primeira experiência, já sabia que aquilo ia ser, pelo menos, divertido.
Nos dias seguintes, continuei fazendo coisas pequenas que nunca tinha tentado antes, como tomar banho ao som de música sul-africana tradicional, pintar as unhas de preto, ouvir podcasts de gamers, ir para o cinema sozinha num sábado à noite rodeada de casaizinhos, ir para a balada sem nenhuma produção, mudar o caminho de volta para casa.
Depois fui ganhando confiança e tomando medidas não tão “micro”, como publicar no meu blog e em redes sociais conteúdos mais intimistas que expunham minha vulnerabilidade, tocar tambor e pandeiro numa roda de samba sem nunca ter tocado nada na vida, inventar uma receita de panqueca com homos e ovo caipira (não dá certo, já aviso), criar um drinque malucão com vinho, suco de uva, chá de gengibre e especiarias (esse eu podia patentear de tão bom).
Por mais estranho que pareça, entrou nesta lista não fazer nada. Eu sou das pessoas pilhadas, que acham que dormir é perder tempo, que querem eficiência, que estão sempre procurando algo para fazer. Em um dos dias não fiz nada. Deliberadamente, nada. Foi libertador!
Essas pequenas mudanças foram me animando e decidi então fazer algumas coisas mais elaboradas. Mandar um e-mail para o chefe pedindo ajuda num projeto da firma, gravar vídeos para um projeto pessoal que estava engavetado, falar com meus familiares sobre um assunto mais delicado que eu estava enrolando há um bom tempo, fugir dos tubinhos pretos que vestia em toda festa de fim de ano da firma. Fui de calça estampada de sementes de guaraná! Nunca usaria isso na vida.
Todas essas iniciativas tiveram resultados muitos bacanas. E aos poucos foi se consolidando em mim uma confiança que eu só tinha experimentado em alguns momentos específicos da vida.
Eu me aproveitei dessa confiança para tomar medidas mais ousadinhas. Estava cuidando de um quadro especial no trabalho e me veio a ideia de fazer algo meio maluco. Com essa confiança e coragem, fiz algo que estava protelando há muito tempo. Consegui engajar várias pessoas de diferentes departamentos numa meta audaciosa.
Não foi fácil. Erramos várias vezes, tivemos que aprender como fazer, nos viramos com os recursos que tínhamos, mas no finalzinho do segundo tempo conseguimos entregar um produto novo para TV que deu orgulho a todo mundo e ganhou destaque em outras regionais.
A vida inteira quis fazer megaprojetos, megamudanças, grandes revoluções, mas o que tenho aprendido nesses últimos dias, na prática, é que é com ações pequenas, mas constantes, é que a gente chega lá.
Ainda tem muito chão pela frente, mas pelo menos tenho aprendido o caminho.
Ah! E se vocês querem saber se estou mais criativa, semana passada uma das editoras mais exigentes me olhou depois de ler meu texto e disse: “Você está bem mais saidinha, né?” Achei um bom sinal!
E vocês? Já se desafiaram em algo assim?
Bárbara Lins é jornalista, apresentadora, podcaster e especialista em marketing de conteúdo.