A pandemia pode estar fortalecendo uma tendência já observada há anos em alguns países: a semana de quatro dias úteis. Empresas sustentam que o rendimento dos funcionários acaba sendo melhor, por conta de menos estresse e mais empenho.
Ano passado, com o planeta paralisado, mil funcionários da empresa de tecnologia Awin, em Berlim, passaram a trabalhar em casa. Para amenizar o desgaste do trabalho em ambiente doméstico, eles ganharam folgas nas tardes de sexta-feira.
Os resultados foram bons. As vendas cresceram, assim como a dedicação dos funcionários e a satisfação dos clientes. Com isso, a Awin adotou a semana de quatro dias em caráter permanente, mantendo os mesmos salários para todos.
“Acreditamos fortemente que funcionários felizes, engajados e equilibrados produzem um trabalho muito melhor”, afirmou Adam Ross, diretor-geral da empresa, ao Bloomberg. “Eles encontram maneiras de trabalhar de forma mais inteligente e são igualmente produtivos.”
Ross analisou ainda: “As empresas costumavam adotar medidas para a saúde física das pessoas, mas nunca para a saúde mental. Vejo que isso está mudando e queremos ser um motor para isso.”
O site ZipRecruiter, de oferta de empregos, tem funcionado como um termômetro que registra essa tendência. Ali, os anúncios de empregos com semana de quatro dias triplicaram nos últimos três anos.
EXPERIÊNCIA BEM-SUCEDIDA NA NOVA ZELÂNDIA
Em dezembro do ano passado, a gigante Unilever resolveu testar a experiência entre os 81 funcionários de sua unidade neozelandesa. E afirmou que, conforme forem os resultados, poderá estender a medida a seus demais 155 mil funcionários no mundo.
“Nosso objetivo é medir o desempenho com base na produção, não no tempo”, explicou ao El País o diretor da unidade neozelandesa, Nick Bangs. “A maneira antiga de trabalhar está desatualizada e não é mais adequada.”
Também na Nova Zelândia, a Perpetual Guardian colhe frutos de sua experiência de semana de quatro dias, adotada anos atrás para seus mais de duzentos funcionários. A empresa de planejamento trocou as quarenta horas semanais em cinco dias por 32 horas de segunda a quinta-feira, com os mesmos salários e benefícios. E constatou equipes mais criativas, menos atrasos e maior presença dos funcionários.
Na Espanha, a pioneira foi a empresa de software Delson, em Jaén, que adotou a semana de trabalho mais curta há um ano. Atrás dela veio o restaurante La Francachela, com endereços em várias cidades. O governo e o partido Más País já admitem um financiamento de 50 milhões de euros (cerca de R$ 332 milhões) para adeptos da semana de quatro dias – estimam-se duzentas empresas de médio porte.
A França é considerada uma pioneira na experiência. Já em 1998 várias empresas adotavam a semana mais curta. Na Suécia, os testes de redução da jornada de trabalho de oito para seis horas diárias, com o mesmo salário, começaram em 2015. Um ano depois, constataram-se menos faltas, mais produtividade e menos problemas de saúde entre funcionários.
Até os japoneses, tidos como workaholics, embarcaram na semana de quatro dias. A Microsoft do país testou a medida em agosto de 2019 e constatou que a produtividade cresceu 40%. Mas não a adotou permanentemente.
Mais radical só mesmo a primeira-ministra mais jovem do planeta: a finlandesa Sanna Marin, de 35 anos. Ela defende uma semana de quatro dias com seis horas de trabalho diárias.
Celina Côrtes é jornalista, escritora e mantém o blog Sair da Inércia.