Nem sempre a gente se dá conta de características nocivas do nosso parceiro ou parceira quando estamos com alguém. Ficamos tão envolvidos emocionalmente que ignoramos sinais claros revelados desde o início. Após certo tempo, quando o “encantamento” diminui, ressignificamos passagens vividas ao lado da pessoa e percebemos que entramos em um relacionamento tóxico. Insistimos com quem, simplesmente, não nos completa e, pior, menos ainda nos faz feliz.
A síntese de um relacionamento tóxico é o desejo irrefreável de controlar o parceiro, querê-lo apenas para si. O outro deseja sugá-lo, “sequestra” a sua alma. Esse comportamento surge aos poucos, de forma sutil, mas depois passa dos limites, causando sofrimento e dor.
Há sinais clássicos de um relacionamento tóxico. Se seu parceiro ou parceira opta por, em vez de conversar sobre o que está incomodando, reter informações, isso vira uma gigantesca bola de neve. Tiro e queda: você se meteu numa relação abusiva.
Óbvio que, de vez em quando, é preciso deixar a poeira baixar para somente depois conversar. Mas se o parceiro lhe der gelo, ficando horas ou dias sem falar com você, ou sequer lhe dizer onde está ou para onde foi – e se dissesse, quem garante que seria verdade? – ou se, ainda, lhe tratar com indiferença, caia fora já! Você está numa tremenda roubada.
No começo da relação ambos parecem ter encontrado a pessoa perfeita. Mas perfeição não existe. As críticas são naturais e acontecem, porém, quando feitas de maneira desmedida, sem respeito ou como ultimato, o relacionamento está fadado ao fracasso. Veja se as críticas que você recebeu são construtivas ou têm a intenção de lhe diminuir. Nesse caso, o golpe baixa drasticamente sua autoestima, lhe corrói emocionalmente.
Você sente um certo desconforto ou clima tenso ao estar com seu parceiro? Vê-se em constante estado de ansiedade e não consegue fazer mais nada direito? Certamente a energia entre vocês é pesada e negativa. Você se embrenhou em um relacionamento tóxico.
Se você negar seus próprios desejos, se anular para que o outro tenha sempre razão, até no que não tem, você está em maus lençóis. Momentos de estresse e divergências não precisam ser cercados por angústia. Pelo contrário, é fundamental confiança e respeito, mesmo quando os dois pensam diferente em relação a algo.
Mudar faz parte do ser humano, muitas vezes é positivo, mas numa relação afetiva só se muda se ambos forem para a mesma direção. Quando o outro tenta lhe mudar para ser o que ela ou ele pretendem que você seja, daqui a pouco você nem se reconhecerá mais como pessoa. Chegará ao fundo do poço. Corte o quanto antes, pela raiz.
Uma dica. Preste atenção se você é o mesmo de sempre diante dos amigos. Se deixou de fazer coisas e atividades que fazia antes, a relação lhe intoxicou. Você se tornou prisioneiro não de si mesmo, mas do outro.
É normal discutir numa relação. Mas quando essa discussão foca em quem vai ganhar a briga, em vez de resolver o conflito, alguém está querendo exercer controle. Relacionamento precisa de harmonia, equilíbrio. Quanto ao quesito ciúme, isso indica falta de confiança. E não dá para manter uma relação saudável sem confiança. Você precisa ter liberdade para ser quem é e precisa confiar na pessoa.
É claro que todo relacionamento precisa de um nível de privacidade. Para isso, é fundamental confiar um no outro. Se ele ou ela quer saber constantemente o que está rolando no seu espaço de privacidade, há um nível tóxico de controle. Detalhe: quem vasculha o celular do outro em geral tem culpa no cartório. Possui a do parceiro, mas sequer lhe deu a própria senha.
Tenha em mente o seguinte. Ciúme obsessivo é doença. Mas em relações tóxicas, onde um exerce constantemente poder, seu ciúme pode ser chamado de “insegurança”. Manipuladores sempre tentam reverter o jogo, até quando estão “no erro”.
Pergunto, se você se doa muito e pouco recebe em troca, para que estar ao lado dessa pessoa? Caso tenha escutado que seus sonhos são rasos e suas metas estúpidas, ou ainda que nunca alcançará seus objetivos, reveja a relação. Alguém que lhe quer bem apoia suas decisões, mesmo quando discorda. A felicidade do outro é muito importante para quem realmente ama.
Por fim, em um relacionamento tóxico há dependência do outro. Emocional, financeira e até mesmo física. Cuidado. Muitos se negam a ver que se meteram numa relação abusiva e insistem em permanecer ou tentar melhorá-la. Pode sair não abalado, mas destruído emocional, mental, financeira e até fisicamente. Aceite que seu relacionamento é doentio e saia de fininho. Ou mostrando quem manda na casa.
Faça a pessoa correr da sua vida e se permita ser feliz. Se preciso for, procure ajuda de amigos, faça um esporte e procure terapia. Outra coisa importante para cimentar o fim da idealização: ressignifique fatos e situações que você viu quando estava “hipnotizado” pela “lente do amor”. E se fortaleça. É estando sozinho que nos conhecemos melhor.
Marcos Eduardo Neves é jornalista, publisher da Approach Editora e escritor, autor de Nunca houve um homem como Heleno (Approach Editora).