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O bem que a espiritualidade faz à saúde

Não é difícil imaginar por que sentimentos negativos podem fazer mal à saúde, assim como sentimentos positivos podem fazer bem à saúde. E é cada vez maior o número de instituições científicas que se dedicam a estudar a influência do estado de espírito sobre o bem-estar. Neste sentido, tratar da espiritualidade é uma maneira de evitar doenças. A ideia é reforçar atitudes positivas no paciente, como explica o cardiologista Álvaro Avezum Júnior em reportagem de Daniele Madureira para a BBC News Brasil.

Para quem ainda confunde religiosidade com espiritualidade, ele afirma: “A espiritualidade é um estado mental e emocional que norteia atitudes, pensamentos, ações e reações nas circunstâncias da vida de relacionamento, sendo passível de observação e mensuração científica.”

Um dos maiores estudiosos do tema no Brasil, Avezum é diretor da Sociedade de Cardiologia do estado de São Paulo e professor de cardiopneumologia da Universidade de São Paulo (USP). Há dois anos, ele liderou uma iniciativa arrojada da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC): a publicação das Diretrizes Brasileiras sobre Espiritualidade e Fatores Psicossociais.

As diretrizes tornaram a SBC a primeira sociedade de cardiologia do mundo a “associar enfermidade moral a doença cardíaca, a partir de evidências científicas”, afirma o cardiologista à BBC. “Quem tem menos disposição ao perdão está mais disponível a enfrentar enfermidades coronárias”, explica.

 

MÉDICA RECOMENDA HISTÓRICO ESPIRITUAL DE PACIENTES

As associações entre estado de espírito e saúde são muitas. Raiva acumulada pode levar a diabetes, diz o médico. E atitudes como perdão e gratidão são capazes de controlar a pressão arterial, afirma. “Mas não um perdão condicional, que mantém o ressentimento, e sim um perdão emocional, que muda o que se sente em relação ao agressor”, esclarece.

Para Azevum, o desafio é levar os estudos a um novo patamar. “Queremos mostrar que é possível prevenir a doença tratando a espiritualidade primeiro, por meio do perdão e da gratidão, além de reforçar outras atitudes positivas como solidariedade, compaixão, humildade, paciência, confiança e otimismo”, afirma. E acrescenta: “Se alguém diz que isto não é ciência está sendo dogmático, porque escolhe o que investigar.”

Diretora do Instituto George Washington para Espiritualidade e Saúde e pioneira no estudo do tema, a médica americana Christina Puchalski é uma inspiração para o cardiologista. Desde 1996 ela inclui o componente espiritual no tratamento de enfermidades e recomenda aos médicos fazer um histórico espiritual dos pacientes.

Coordenador do Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade do Instituto de Psiquiatria da USP, o médico Frederico Leão dá um exemplo: “Se o paciente acredita que a meditação o acalma, o médico deve ter essa informação em mãos e recomendar que ele mantenha a prática, ao mesmo tempo que toma a medicação.” Ele acrescenta: “É preciso adotar a prática espiritual que esteja em harmonia com as crenças de cada um, porque isso vai contribuir para o tratamento.”

Leão cita as pesquisas de outro especialista americano, o psiquiatra Harold Koenig, da Duke University. Para Koenig, ignorar a dimensão espiritual de um paciente é ignorar seu aspecto social ou psicológico, deixando de tratá-lo de forma integral. Leão afirma: “Koenig constatou que o pensamento positivo, a meditação e a oração não afetam só a mente, mas o organismo como um todo.”

 

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