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Combate a consumo e produção de salmão ganha força

Se você é daqueles que aprecia o salmão, saiba que o consumo e a produção da espécie estão mais do que nunca sendo combatidos e questionados, não apenas pela suspeita qualidade nutritiva do peixe criado em fazendas marinhas, mas principalmente pelo impacto ambiental da indústria. Prova disso é a recente decisão da província da Terra do Fogo, no extremo sul argentino, de proibir o cultivo de salmão em seu território, numa iniciativa inédita no mundo.

Determinada por projeto de lei, a medida é também pioneira por ter impedido a criação de salmão antes de a indústria se estabelecer na Terra do Fogo, ou seja, evitando a contaminação das águas límpidas do Canal do Beagle, que banha a região. A campanha que resultou na decisão oficial teve apoio de ativistas chilenos, indignados com os danos ambientais do cultivo de salmão em seu país, o segundo maior produtor do pescado no mundo, atrás da Noruega.

Estefanía Gónzalez, coordenadora da campanha de oceanos do Greenpeace Andino – que abrange Argentina, Chile e Colômbia – afirmou à DW: “Trata-se de um marco histórico que transforma a Argentina no primeiro país do mundo a proibir a criação intensiva de salmão industrial.”

O estado americano de Washington, observou González, decidiu proibir a produção de salmão a partir de 2025. Em outros países vêm sendo registradas tentativas de abolir essa indústria. No Chile, ambientalistas se opõem a dezenas de criadouros de salmão, mantidos inclusive em áreas protegidas e terras indígenas.

 

BOICOTE DE CHEFES DE COZINHA ARGENTINOS

Pesquisadores da Universidade de Buenos Aires realizaram um estudo econômico sobre a indústria de salmão que ajudou a embasar a proibição na Terra do Fogo. Segundo David López Katz, da organização ambientalista Sem Azul Não Há Verde, a comunidade e o governo local “concluíram que não estão dispostos a pôr em risco seus valores essenciais e os mais de 17 mil empregos gerados pelo turismo, que dependem do Canal de Beagle”.

Considerado porta de entrada para a Antártida, o canal liga os oceanos Atlântico, na Argentina, e Pacífico, no Chile. E é um santuário de espécies marinhas, com uma fauna que inclui pássaros, pinguins e mamíferos. Muitos se reproduzem ali. Dispostos a preservar o Beagle, dezenas de chefes de cozinha argentinos retiraram o salmão de seus cardápios nos últimos anos. Alegaram também motivos de saúde.

O salmão é conhecido por suas qualidades nutritivas, em especial por ser rico em ômega 3, gordura boa associada à saúde cardiovascular e neurológica. Mas esses benefícios advêm principalmente do peixe capturado em seu habitat. A dieta de ração daqueles que vivem em cativeiro os anularia.

Professor do departamento de nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Carlos Monteiro afirmou à Folha de S. Paulo que o salmão de criação tem baixo valor nutritivo e pode ser considerado um alimento ultraprocessado, assim como os biscoitos recheados. “O ômega 3 vem das algas que o peixe come na natureza”, disse ele.

 

POLUIÇÃO QUÍMICA E ÁREAS MARINHAS SEM VIDA

Monteiro coordenou a elaboração do Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado em 2014 pelo Ministério da Saúde. “Quando elaboramos o guia, cogitamos incluir o salmão e outros animais de criação nos ultraprocessados”, afirmou. Isso não aconteceu, segundo ele, para evitar confusão entre os consumidores que não sabem a procedência do peixe que comem.

Em geral, o salmão de criação é alimentado com ração à base de soja ou milho, explicou o professor. Com isso, o ômega 3 é suplantado pelo ômega 6, que em quantidade moderada não seria prejudicial, mas que não teria os mesmos benefícios associados ao salmão selvagem.

Florencia Ortúzar, advogada com mestrado em política e regulação ambiental pela London School of Economics, afirmou em artigo acadêmico que a produção maciça de salmão “deixa para trás poluição química, áreas marinhas sem vida”. Os salmões, disse ela, são alimentados com bolinhas que contêm pesticidas, corantes, fungicidas e outros produtos químicos usados para melhorar a produção. “Muitas dessas bolinhas não são consumidas e caem no mar”, observou.

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