Pesquisas sobre relacionamentos têm indicado quais são os casais com probabilidade maior de continuar juntos e quais são aqueles que tendem a se separar. E têm constatado que não são diferenças de origem, idade ou opinião que mantêm ou rompem uma relação. O que mais influencia uma relação são comportamentos, em especial a forma como as pessoas se comunicam.
Psicólogo e pesquisador de casamentos, John Gottman identificou os “quatro cavaleiros do Apocalipse” que aumentam a probabilidade de um divórcio. Eles são descritos como: a crítica, a defensiva, o muro de pedra e o desprezo. A maioria das pessoas usa esses hábitos de vez em quando em suas relações. Ninguém está imune. A chave seria reconhecer o uso, rapidamente consertá-lo e trabalhar para utilizar isso cada vez menos.
A CRÍTICA
Aqui a ideia é perceber um problema na sua vida ou relação e transformá-lo num comentário sobre defeitos da personalidade do parceiro. Você pode se pegar criticando quando diz palavras como “sempre” ou “nunca” ao descrever algo que seu parceiro faz ou não faz. Criticar é diferente de reclamar. Fazer uma reclamação é normal e saudável numa relação, para não criar ressentimentos ao longo do tempo. E nesse caso o foco está no problema.
Por exemplo, se ao fim de um dia de trabalho a pia está cheia de louça para lavar, você pode reclamar: “Estou tão cansado no fim do dia e é tão frustrante encarar uma pia cheia de louça.” Ou então criticar: “Estou tão cansado e você nunca se importa com isso. Sempre deixa a louça para lavar.” Observe que a reclamação foca no problema. Já a crítica pode levar o parceiro a responder se defendendo.
O antídoto: A crítica num relacionamento geralmente se deve a necessidades não atendidas, mas agindo assim você torna ainda menos provável que seu parceiro as atenda. Se a conversa já é rude desde o começo, é provável que se torne um conflito. Se você levanta o assunto de maneira suave, é mais provável que haja uma resolução. Comece expressando o que você notou, compartilhando seus sentimentos e afirmando sua necessidade.
A DEFENSIVA
Esta é uma reação à crítica percebida. Pessoas na defensiva podem:
- Dar explicações em excesso: Eu ia lavar a louça, mas o detergente acabou, eu fui à mercearia e…”
- Assumir uma mentalidade de vítima: “Você é sempre tão cruel comigo.”
- Contracriticar: “Vou começar a lavar a louça quando você começar a cuidar do jardim.”
- Usar “mas”: “Eu sei que a pia está uma bagunça, mas você não pode ignorar isso esta noite?”
Pode ser que haja uma boa explicação. Talvez realmente a pessoa nunca lave a louça. Mas se você fica na defensiva, o outro acredita que a necessidade dele não foi ouvida. E isso amplifica a desconexão e, provavelmente, a crítica. Existe hora para falar sobre sua percepção, mas geralmente não é o momento em que alguém faz uma pergunta – em geral, é menos provável que você seja ouvido se responder imediatamente.
O antídoto: Em vez de ficar na defensiva, procure assumir sua parcela de responsabilidade, mesmo que você acredite que ela é pequena. Você também pode validar sua própria percepção e realidade. É provável que a percepção do outro seja válida e que parte da responsabilidade seja sua. Admitir é difícil, mas é importante para a relação funcionar de forma saudável: “Você tem razão, a pia está uma bagunça. Não lavei a louça, embora tenha dito que lavaria.”
O MURO DE PEDRA
Se você age como se fosse um muro de pedra, ou seja, fica parado e quieto, o outro pensará que você não se importa com ele. Ele notará que você está distante, calado durante a conversa, talvez até cruzando os braços. É como uma reação diante de uma ameaça. Você paralisa e perde seus instintos de se relacionar, como o humor e a afeição.
Se você se comporta assim, não é possível haver uma conversa produtiva. A pessoa que paralisa precisa trabalhar uma maneira de tranquilizar a si própria. São necessários vinte minutos para que os hormônios do estresse saiam da corrente sanguínea. Durante a paralisação, a pessoa pode respirar fundo, sair para caminhar, exercitar-se, fazer alguma atividade tranquilizadora.
O antídoto: Para tranquilizar a si mesmo, você precisa se afastar do conflito, portanto procure não continuar pensando nisso, ou escrever sobre isso ou ligar para seu melhor amigo para falar sobre isso. Dê um tempo para se acalmar e voltar a conversar. Esse retorno traz confiança à relação.
O DESPREZO
É o mais perigoso dos “quatro cavaleiros do Apocalipse”. No mínimo, é cruel. No máximo, torna-se um abuso emocional. Segundo a pesquisa de Gottman, o desprezo é o maior indicador de divórcio. Para aquele ao qual é é direcionado, pode significar problemas de saúde, como imunidade mais baixa.
O desprezo é uma crítica exacerbada, porque a pessoa assume uma posição de superioridade. Quem despreza expressa descontentamento utilizando a vergonha e o sarcasmo para rebaixar o outro.
O desprezo pode ser resultado de um ressentimento prolongado. Algumas pessoas agem assim porque viram os pais utilizar o desprezo num conflito. Para outras, é uma resposta a um antigo ressentimento ou traição.
O antídoto: Em vez de utilizar o desprezo, é preciso desenvolver novas habilidades de comunicação para discutir os sentimentos que incomodam. Especificamente, é preciso aprender a falar sobre si mesmo, e não sobre o outro, quando há um conflito. O objetivo final é conseguir começar a conversa de maneira suave, mas primeiro é preciso focar em conseguir narrar seu mundo interno em vez de atacar o outro. Outro antídoto importante é desenvolver uma cultura de apreciação. Isso significa notar o que seu parceiro está fazendo certo e expressar isso a ele.
Fonte: Artigo da terapeuta de casal e família Elizabeth Earnshaw para o site mindbodygreen.