Você começa e termina o dia pensando naquela pessoa. Ri à toa ao lembrar do sorriso dela e se sente como quando era adolescente e se encantava com alguém. Tudo isso pode ser muito bom, mas se houver um certo exagero nesse comportamento, pode ser que não seja exatamente um sintoma de amor, e sim de limerência.
A limerência é descrita como um estado cognitivo e emocional involuntário que resulta de um forte interesse romântico combinado com uma profunda obsessão e um desejo avassalador. Há ainda uma necessidade exagerada de ter o seu sentimento correspondido.
O termo foi cunhado pela psicóloga americana Dorothy Tennov (1928-2007) nos anos 70. “Refere-se aos sentimentos de empolgação que você tem quando conhece alguém”, explica a terapeuta Eliza Boquin ao site mindbodygreen. “Durante esse momento, com frequência só queremos mais daquela pessoa – mais tempo, mais afeição, etc. É uma intensa excitação emocional que nos deixa ansiando pelo outro. Com frequência, as pessoas se referem a esse sentimento como amor à primeira vista.”
À primeira vista pode parecer que você está apaixonado. Mas é importante distinguir entre encontrar uma pessoa com a qual você se vê desenvolvendo uma relação e reduzir essa pessoa a uma princesa ou príncipe encantado que se encaixa em seus sonhos e aspirações e naquilo que ela poderia oferecer a você. É como comparar calorias vazias com um amor que possa realmente nutrir você.
CONCEITO É VISTO DE MANEIRA POSITIVA NA CULTURA CONTEMPORÂNEA
Segundo Boquin, tanto a limerência quanto o amor podem começar com uma descarga de dopamina, e por isso você pode se confundir. Se a limerência tem vida curta, o amor verdadeiro é fluido e incondicional. Quando você ama uma pessoa, quer que ela seja feliz independentemente do que lhe oferece. A atração inicial se desenvolve com o tempo e se torna algo substancial.
“O amor é mais estável e firme, enquando a limerência nos deixa com uma sensação de estar nas nuvens”, diz a terapeuta. “O amor é uma conexão profunda que as pessoas desenvolvem depois de se conhecerem, experimentarem uma vida juntas e superarem obstáculos juntas.”
Pode ser difícil perceber os sinais de limerência, uma vez que o próprio conceito em geral é visto como um conto de fadas e, portanto, de maneira positiva na cultura contemporânea. Mas entender as diferenças sutis entre limerência e amor pode ajudar você a assumir um compromisso certo e assegurar um bom relacionamento.
A terapeuta Silva Depanian relaciona alguns sinais de que você pode estar em limerência, e não amando:
- Falta de clareza em relação a quem a pessoa é.
- Você é invadido o dia inteiro por pensamentos sobre a pessoa.
- A vida real deixa de ser prioridade e você centraliza tudo na relação.
- Você se sente emocionalmente dependente da menor reação da pessoa.
- Você busca desesperadamente a aprovação da pessoa.
Em geral, há uma primeira fase de encantamento, paixão ou obsessão. É a limerência em si. Em seguida, vem a fase da cristalização, em que a limerência começa a desaparecer e o casal enfrenta desafios, decepções e determina se quer continuar junto. Quando os dois estão bem afinados, é possível que a relação prossiga. Senão, a tendência é tentar manter a intensidade da relação a qualquer custo, o que pode se tornar uma compulsão.
Por fim, vem a fase da deterioração. Se a relação não se fortalece, desmorona. A ilusão se desfaz e a pessoa não é mais aquela que você pensava que queria. É comum um sentimento de decepção e frustração.
UMA OPORTUNIDADE DE EVOLUIR PARA O AMOR
Tennoc observou, porém, que inícios de relação problemáticos podem levar a vínculos saudáveis. O problema é que, quando a limerência gera um sentimento muito bom no nível neuroquímico, pode se tornar um vício ou um mal de amor. Obsessão e codependência afetam a psique e o bem-estar.
Desligar-se da pessoa pode ser um processo doloroso. Depanian sugere investigar bem a atração que você sente para desmistificar o magnetismo do parceiro. E se esse é um padrão crônico em sua vida, procure um especialista para descobrir os motivos de seu apego à pessoa.
“A limerência nos une e apresenta uma oportunidade de evoluir para o amor. Mas por mais que queiramos ter uma garantia de que as coisas vão funcionar, não há garantia. O amor é um risco”, diz Boquin.
Para Depanian, “limerência pode se tornar amor, mas só com uma mudança na mentalidade do indivíduo que experimenta a limerência”. A chave estaria em dar a si próprio o mesmo valor e significado que se busca no outro.
Fonte: artigo da coach de relacionamentos e educadora Julie Nguyen para o site mindbodygreen.