Reações alérgicas a alimentos são um dos principais motivos pelos quais acabamos em emergências médicas. E, quando sabemos quais os gatilhos por trás dessas inflamações, seguimos dietas restritivas, procurando suprimir completamente o alimento ao qual a alergia está associada, visando uma melhor qualidade de vida.
Embora essa seja uma medida eficaz para evitar problemas de saúde, uma nova perspectiva para combater essas alergias está sendo pesquisada. Um novo estudo, liderado por pesquisadores do Brigham and Women’s Hospital e Boston Children’s Hospital, identificou as espécies de bactérias no intestino humano infantil que protegem contra alergias alimentares, encontrando mudanças associadas ao desenvolvimento de alergias alimentares e uma resposta imune alterada.
Pesquisa uniu análise microbiana e computacional
Essas descobertas sobre o microbioma humano sugerem que a fauna intestinal alterada desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de alergias alimentares. Ou seja, tratamentos disruptivos para prevenir, debelar ou reverter alergias estão presentes em nosso próprio sistema digestório.
Os pesquisadores descobriram que uma formulação oral enriquecida com cinco ou seis espécies de bactérias encontradas no intestino humano protege contra alergias alimentares e reverte os sintomas, reforçando a tolerância a alérgenos alimentares.
Isso representa uma mudança radical em nossa abordagem à terapêutica para alergias alimentares. Foram identificados os micróbios que estão associados à proteção e aqueles que estão associados a alergias alimentares em pacientes. Se forem administrados consórcios definidos representando os micróbios protetores como terapêuticos, não só será possível evitar alergias alimentares, como também revertê-los. Essas bactérias têm portanto a capacidade de reiniciar nosso sistema imunológico, alterando nossa resposta a alimentos que antes nos causavam mal.
Segundo os pesquisadores, é muito complicado olhar para todos os micróbios no intestino e entender o que eles podem estar fazendo na alergia alimentar, mas usando abordagens computacionais foi possível concentrar em um grupo específico de micróbios que estão associados à proteção do nosso organismo. Sendo assim, reduziu-se o grupo de amostragem a poucas espécies de bactérias que podem estar influenciando a suscetibilidade à alergia alimentar.
Abordagem inédita
A nova abordagem representa um contraste marcante com a imunoterapia oral, uma estratégia que visa aumentar o limiar para desencadear uma reação alérgica, dando a um indivíduo pequenas quantidades crescentes de um alérgeno alimentar. Ao contrário dessa abordagem, a bacterioterapia altera a composição do sistema imunológico independente de alérgenos, com potencial para tratar alergias alimentares em vez de dessensibilizar um indivíduo a um alérgeno específico. Até agora, isso nunca havia sido testado.