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A nova moda é usar roupa velha

Recém-lançada, a revista de moda online Display Copy traz na capa de sua primeira edição a modelo plus-size Paloma Elssesser. Nas páginas, Paloma veste marcas famosas como Helmut Lang, Paul Smith, Adidas e Balenciaga. Mas o que chamou a atenção de Vanessa Friedman, colunista do New York Times, foram as indicações de “onde comprar” as roupas: Exército da Salvação, Etsy e eBay – três nomes dedicados a roupas de segunda mão.

A carta de apresentação da nova plataforma de moda deixa clara sua intenção: ali não haverá uma única peça nova – um fato inédito nesse tipo de publicação. “A ideia era tornar as roupas usadas desejáveis”, disse a editora Brynn Heminway a Vanessa. “Porque, honestamente, acho que nada novo é sustentável. Todo mundo me disse que eu não conseguiria nenhum apoio de anunciante ou de qualquer pessoa para escrever sobre isso.” Vanessa afirma, porém, que o timing é perfeito.

Nos quatro cantos do mundo, a nova tendência da moda é usar roupa velha. Ou pelo menos reciclar peças antigas e lhes dar outra cara ou outra função. O mundo fashion chama isso de upcycling. Fala-se também em recomércio e moda circular – tudo vai sendo reaproveitado e reutilizado. E esta não é uma tendência seguida por quem se diz alternativo ou pobre. Grandes marcas estão embarcando na onda.

 

SUSTENTABILIDADE E SISTEMAS DE VALORES

Para Vanessa, “pode ser que esta seja a mais concreta mudança no sistema da moda vinda da pandemia: o único produto real a surgir de toda a conversa da indústria, em maio e junho, sobre mudança, sustentabilidade e sistemas de valores”.

A colunista lembra que, uma semana antes do lançamento da Display Copy, a marca italiana Miu Miu lançou uma coleção de vestidos feitos no período entre os anos 1940 e 1970. Todos eles remodelados para os clientes contemporâneos, naturalmente. Já a Lewis lançou um programa que permite aos clientes vender os jeans velhos à própria Lewis para que estes sejam consertados, recriados e revendidos. Ou reciclados.

Os exemplos são muitos. Já em fevereiro, em Paris, a Maison Margiela criou uma coleção produzida com roupas que a equipe de John Galliano encontra em lojas beneficentes e modifica. E no mês passado, a Gucci se associou ao site de revenda RealReal para criar uma plataforma de roupas usadas, “como fizeram antes Stella McCartney e a Burberry”, observou Vanessa.

As recentes iniciativas representam o inverso do que antes a indústria da moda preconizava, ou seja, que é preciso apresentar sempre produtos novos para não perder a atenção do cliente. Esse esquema saturou. Para Vanessa, a pandemia e as questões econômicas explicam em parte a mudança, já que muitas fábricas pararam. Há também uma mudança de comportamento dos consumidores, antenados com as questões ambientais e o conceito de sustentabilidade.

No fim das contas, uma conjunção de forças parece conspirar para mudar a direção da indústria da moda. E quem há de negar que a atriz Cate Blanchet arrasou ao exibir um guarda-roupa reciclado durante o Festival de Veneza?

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