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A velhice entre amigos sob o mesmo teto

Em 2011, a comédia dramática E se vivêssemos todos juntos? trazia uma ideia inovadora a quem considerava asilos e casas de repouso as únicas soluções possíveis para atravessar a velhice. No filme, cinco amigos com mais de 70 anos – entre eles Jane Fonda e Geraldine Chaplin – decidem morar juntos e se divertir na fase avançada de suas vidas. Dez anos depois, a ficção ganha tons de realidade na prática da coabitação sênior, que começa a chegar ao Brasil.

Assim como os personagens do filme do francês Stéphane Robelin, idosos de países como Dinamarca, Espanha, Estados Unidos e Canadá adotam cada vez mais esse tipo de habitação comunitária. Porque é sempre doloroso remover alguém do convívio com a família e instalá-lo numa casa de repouso. Por mais acolhedoras que sejam as instalações, a pessoa estará cercada de desconhecidos. Então por que não compartilhar a velhice com amigos da mesma faixa de idade?

Esse é o maior atrativo da proposta, que tem pouco em comum com as casas destinadas a acolher idosos, a começar pelo fato de não oferecer serviço de assistência médica. Em geral, o projeto é uma iniciativa de amigos. Um deles se dispõe a adaptar sua moradia para abrigar os outros, ou então o grupo busca novos espaços para tornar a iniciativa comunitária possível.

Foi o que planejou um grupo de 65 professores aposentados da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Com mais de 50 anos, eles resolveram se reunir em uma moradia coletiva na cidade paulista. O objetivo era simples: envelhecer juntos e fugir da solidão. Previsto para ter início no ano passado, o projeto acabou sendo adiado por causa da pandemia.

 

CONJUGAÇÃO DE ESPAÇOS COLETIVOS E INDIVIDUAIS

Como o ponto central de uma coabitação é a interação social entre velhos conhecidos, o planejamento da rotina e da administração tende a ser feito de forma coletiva. A arquitetura deve incluir cuidados com acessibilidade e segurança, até para evitar quedas e fraturas. As refeições podem se tornar bons momentos de compartilhamento, mas cada um pode ter também sua cozinha individual.

Segundo a revista Saber é Saúde, o modelo mais comum consiste em pequenas casas individuais com dormitório, minicozinha e banheiro. O lazer fica nas áreas de uso comum, que podem incluir salas de televisão e leitura. A lavanderia é coletiva, assim como uma cozinha mais ampla para as refeições em grupo. As casas ficam próximas – num mesmo terreno ou condomínio – de modo a facilitar a convivência e a solidariedade.

Na comparação com os lares de idosos, a coabitação tem, além da vantagem de manter os amigos por perto, o benefício de uma privacidade maior, com mais autonomia e liberdade. E o compartilhamento de recursos pode baratear custos.

O que poderia fazer falta no modelo seria a assistência médica oferecida em casas de repouso. Nada que não possa ser substituído pela proximidade de um hospital ou posto de saúde. Além disso, a coabitação costuma ser defendida por geriatras como uma maneira de evitar depressão, demência e outras doenças que podem atingir os longevos.

O filósofo grego Epicuro é uma prova de que a ideia da coabitação nada tem de nova: três séculos antes de Cristo ele já defendia uma proposta semelhante. O modelo atual reflete, porém, a nova realidade de expectativa de vida num mundo onde os 70 anos corresponderiam aos 50 e poucos de décadas atrás. O que se vê é o surgimento de comunidades de idosos produtivos e autônomos, com demandas e anseios capazes de surpreender as novas gerações.

Celina Côrtes é jornalista, escritora e mantém o blog Sair da Inércia.

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