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Arquitetos biológicos criam a comida do futuro

Dezenas de cientistas no mundo estão pesquisando maneiras de reformular alimentos em níveis tão básicos quanto o das células. Eles são chamados de arquitetos biológicos. Buscam, por exemplo, produzir análogos de carnes a partir da modificação de microorganismos encontrados em plantas, ou até criar novos organismos a partir de plantas e animais. O objetivo em geral é manter ou mesmo aprimorar as qualidades tradicionais dos alimentos revolucionando o modo como os nutrientes são produzidos, como explica um artigo na Food Technology Magazine.

O que move os cientistas que desenvolvem essas novas tecnologias – e os empreendedores que os financiam – pode ser a determinação de livrar o planeta da destruição causada pelos métodos tradicionais de produção de alimentos, ou alimentar milhões de pessoas que ainda morrem de fome no mundo. Mas é claro que existe a motivação do lucro e ainda aquele impulso criativo de promover avanços tecnológicos.

A inovação mais espetacular provavelmente é a cultura in vitro de células de análogos de carne, aves e peixes. A ideia é, em vez de abater animais, criar tecidos que possam ser cultivados para se transformarem em alimento. Há também experiências de impressão em 3D de imitações de carne feitas de plantas. Um terceiro processo é a edição de genes: os cientistas manipulam filamentos de DNA para reprojetar organismos, por vezes criando novos organismos. E uma quarta iniciativa é desenvolver cultivos de organismos até então obscuros para impulsionar a produção de alimentos.

 

ALTERNATIVA À AGRICULTURA TRADICIONAL

Nos gêiseres do Parque Nacional de Yellowstone, no estado americano de Wyoming, uma equipe da empresa Nature’s Fynd descobriu um micróbio de fungo que sobreviveu milhares de anos a temperaturas subterrâneas de 120 graus. Grandes quantidades desse micróbio estão sendo agora fermentadas em bandejas e sendo manipuladas em Chicago para se transformarem em uma imitação de frango e outros produtos. O francês Thomas Jonas, CEO da empresa, espera um dia alimentar grandes populações usando apenas uma fração da terra e da água consumidas na agricultura tradicional.

Jonas pretende lançar seu primeiro produto à base da cultura do micróbio Fusarium strain flavolapis no ano que vem. Para isso, conta com um grupo de financiadores que inclui Al Gore, Bill Gates, Jeff Bezos, Richard Branson e Michael Bloomberg.

“É uma loucura que para alimentos estejamos dependendo hoje das mesmas espécies que começamos a domesticar quando a agricultura começou, há 11 mil anos”, disse Jonas à Food Technology Magazine. “Entre milhões de organismos e espécies no planeta, nós aperfeiçoamos nosso sistema em torno de menos de dez plantas que fornecem 60% de nossa ingestão calórica global, incluindo as plantas que alimentam os animais que comemos. Isso está chegando a um limite em termos de eficiência e capacidade de fornecer alimentos para todos nós.”

Professor de economia alimentar da Michigan State University, Trey Malone afirmou à revista: “Podemos imaginar mudar o sistema de produção de alimentos nas próximas décadas para confrontar muitos dos grandes problemas que já estamos vendo surgir, incluindo a mudança climática. A tecnologia que se vê é impressionante, e só vai aumentar.”

Não faltam críticos, porém, desses métodos futuristas da indústria alimentícia. Walter Willett, renomado nutricionista da Harvard University School of Public Health, opinou: “Haverá um papel para algumas dessas tecnologias novas e um tanto exóticas. Mas, dito isso, na verdade não precisamos delas. Podemos fazer o que precisamos fazer com os alimentos que temos hoje.”

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