Não por acaso, o sistema de saúde britânico alterou suas diretrizes para pessoas com diagnóstico de depressão leve: antes de começar a tomar antidepressivos, elas devem fazer terapia e exercícios físicos. Estudos científicos vêm comprovando os benefícios das atividades físicas para a saúde mental, e em especial a depressão.
Uma vida ativa pode não apenas ajudar a tratar, mas também a evitar um quadro de depressão, conforme indicou um levantamento realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (URFGS) com base em 49 análises. A constatação foi de que os exercícios físicos aceleram a regeneração de neurônios e, com isso, ajudam a prevenir o transtorno.
“O exercício físico tem um efeito terapêutico, por isso pode ser colocado como mais uma estratégia contra a depressão”, disse o psiquiatra Marcelo Fleck, professor da URFGS e um dos responsáveis pela pesquisa, à página Eu Atleta, da Globo. “Existem várias evidências que os exercícios interferem com os marcadores biológicos que acontecem no cérebro”, acrescentou ele.
DISTÚRBIO VEM SENDO CONSIDERADO ‘ MAL DO SÉCULO 21’
As atividades físicas favorecem a liberação de dois hormônios capazes de evitar ou combater a depressão: a endorfina, que promove sensação de bem-estar, e a dopamina, de efeito analgésico e tranquilizante.
Em 2017, o Black Dog Institute, uma instituição australiana para diagnósticos, divulgou um estudo segundo o qual 12% dos casos de depressão poderiam ser evitados com a prática semanal de pelo menos uma hora de exercícios físicos. Para chegar a esse resultado, os autores da pesquisa acompanharam quase 34 mil pessoas durante onze anos, avaliando a relação entre rotinas de exercícios e sintomas de depressão e ansiedade.
Devido ao aumento de sua incidência no mundo, a depressão vem sendo considerada “o mal do século 21”. De acordo com dados de 2018 da Organização Mundial de Saúde, o distúrbio afeta mais de 320 milhões de pessoas, ou aproximadamente 4,4% da população do planeta.
No Brasil, são quase 12 milhões de pessoas com depressão, ou 5,8% da população, informou a OMS, o que representa o maior índice entre os países da América Latina. No continente americano, perde apenas, e por pouco, para os Estados Unidos (5,9%).
SINTOMAS SÃO DIVERSOS E VARIAM DE UMA PESSOA PARA OUTRA
A depressão se caracteriza por alterações químicas no cérebro, relacionadas a neurotransmissores, como serotonina, noradrenalina e dopamina, que transmitem impulsos nervosos entre as células. As causas podem incluir fatores genéticos e sociais, como violência, luto, estresse e solidão.
O diagnóstico não é considerado simples, porque passa ao largo de exames físicos, exigindo uma análise clínica de profissionais de saúde especializados. O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, disse à BBC News Brasil que 50% a 60% dos casos não são detectados por médicos clínicos e que muitas vezes o tratamento aplicado não é exatamente adequado.
“A depressão se caracteriza por uma tristeza profunda e prolongada, que faz o indivíduo perder o interesse por coisas que anteriormente eram prazerosas”, afirmou Silva. “Além da tristeza, que é o sintoma mais conhecido e falado, o padecente pode sofrer com alterações no sono, podendo dormir demais ou ter insônia, distúrbios alimentares, irritabilidade, fadiga, pensamentos de suicídio. Cabe ressaltar que os sintomas variam de pessoa para pessoa.”
Para quem está em depressão, algumas dicas antes de começar a se exercitar são: conversar com o profissional que irá lhe acompanhar; respeitar os limites físicos e aumentar aos poucos a intensidade dos exercícios; e estabelecer metas, o que pode ajudar a ter ânimo para a prática.