Como andam os casais na pandemia? Cada qual vem fazendo seus arranjos para passar por essa crise.
Os casais vinham mantendo suas dinâmicas e, no momento em que o mundo parou, depararam-se com o que construíram até então e se viram numa situação de avaliar isso. Essa avaliação sobre o que se construiu até aqui se aplica também a outras relações, sejam elas com filhos, amigos ou consigo mesmo.
Os casais que se inventam em cima de disputas acirradas tendem a ter mais dificuldades nesse momento de quarentena, em que há uma convivência mais maciça, sem os cortes naturais do dia a dia, tais como ir ao trabalho, tomar um café com uma amiga, levar filhos à escola, ir à academia. Esses intervalos são agora inexistentes. Há casais em pleno movimento de divórcio, diante da impossibilidade de lidar com importantes diferenças.
Convivência intensa muda dinâmica
A pandemia nos impõe “arrumar a casa”, em todos os sentidos. Jogar a sujeira para baixo do tapete não é mais um recurso diante da convivência intensa de agora. Casais que mantêm uma boa parceria tendem a passar melhor por esse momento. Aqueles que dividem tarefas, se apoiam, se ouvem, respeitam o espaço e a diferença em si e no outro certamente estão mais unidos e usufruindo mais da companhia, inclusive no encontro sexual.
Um casal significa duas histórias distintas de vida, dois olhares sobre o mundo, desejos independentes. Quando há um encontro nessa diferença, quando há admiração na diferença do outro, tem-se um casal saudável. Um casal em que o foco está nas comparações e disputas de ego é um exemplo de casal unido pela neurose.
Mas essa quarentena também convida os casais a refazer seus arranjos. Trabalhando em cima do que é possível e se liberando de si e de um outro idealizado, há grandes chances de surgir uma nova parceria num mesmo casal.
O casal se forma na intercessão de um mais um. Ele existe a partir da diferença. Aos (re)arranjos!
Kátia do Vale Almeida, psicóloga e psicanalista.