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Cerveja traz na marca a luta pela inclusão racial

Os irmãos Daniel e Diego Dias escolheram a dedo a data de 20 de novembro de 2018 para inaugurar sua cervejaria em Porto Alegre. A primeira fábrica de cerveja brasileira fundada e gerenciada por negros começou a funcionar no Dia da Consciência Negra. A intenção é tornar a marca um símbolo contra a discriminação racial. E o nome da marca remete a uma atitude de reação a um mercado considerado exclusivista: Implicantes.

“Queremos implicar com questões que estão estabelecidas em nossa sociedade sem maiores questionamentos”, disse Daniel ao site DW. “Fazemos uma cerveja acessível a todos. É claro que o pobre brasileiro também gosta de boa cerveja. Nossa cerveja não deve ser exclusiva, mas democrática e inclusiva.”

O orgulho da raça se expressa de diversas formas, a começar pelo logotipo: um gato preto de olhos amarelos, criado por Diego. “É o animal mais implicante que tem”, explicou ele com humor. E os rótulos da Implicantes homenageiam figuras brasileiras negras de destaque

Há uma ale dedicada a Luís Gama, advogado que combateu a escravidão no início do século XIX. Chama-se Abolicionista. Maria Firmina Reis, considerada a primeira escritora brasileira negra, é lembrada no rótulo Uma Maranhense. Foi com esse nome que ela assinou seu primeiro romance, Úrsula.

Um dos mais proeminentes jogadores da história do futebol brasileiro, Leônidas da Silva é homenageado na pilsen Grande Artilheiro. E a atriz Ruth de Souza inspirou a IPA Dama Negra. Foi a primeira artista brasileira indicada para um prêmio de melhor atriz em um festival internacional de cinema, o de Veneza, em 1954, por seu desempenho em Sinhá moça, dirigido por Tom Payne.

 

MODELOS PARA OUTROS EMPRESÁRIOS NEGROS

Os dois irmãos começaram o negócio comprando uma pequena cervejaria já montada. Convidaram o primo Thiago Rosário, com experiência em comércio, e o cervejeiro Andrés Amorim, que os assessora. De olho na qualidade, optaram por importar o lúpulo alemão Hallertau.

Já no início, eles tiveram um problema de refrigeração que os obrigou a jogar fora mil litros de cerveja, mas não se abateram. Recentemente, a pandemia trouxe dificuldades econômicas. Eles apelaram para uma campanha de financiamento coletivo, com o qual arrecadaram quase R$ 200 mil. Em agradecimento a seus 1.700 doadores, lançaram o rótulo 1.700 e os presentearam com canecas que trazem o lema dos implicantes: “Foda-se o racismo”.

“Entendemos que somos necessários como modelos para outros empresários negros, como um símbolo da luta contra o racismo e, é claro, como uma cervejaria alternativa”, afirmou Daniel.

O mercado de cervejas artesanais no Brasil começou a crescer por volta de 2010. Consumidores passaram a apurar o paladar e prestigiar a qualidade do produto. Nos últimos dois anos o setor cresceu 30%, puxado principalmente por Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro.

Segundo o site Confraria Paulista Store, em 2018 havia 889 marcas de cerveja artesanal cadastradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Em fevereiro de 2020, o número havia saltado para 1.171. Os irmãos “implis”, como eles se autodenominam com humor, chegaram dispostos a fazer diferença. E estão fazendo.

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