Em 1981, a Aids foi descrita pela primeira vez, tornando-se nos anos subsequentes uma doença que dizimou milhares de vidas no mundo. Agora, quarenta anos depois, cientistas anunciaram bons resultados em estudos da fase 1 para a produção de uma vacina contra o HIV. O imunizante está sendo desenvolvido nos Estados Unidos pelo Scripps Research Institute em parceria com a Iniciativa Internacional pela Vacina da Aids (Iavi).
A vacina testada foi a primeira a estimular o organismo a produzir anticorpos amplamente neutralizantes (BNAbs), capazes de neutralizar várias cepas do vírus da Aids. Esse era considerado o maior desafio ao combate da doença, porque o HIV sofre mutações muito rapidamente.
Os estudos da primeira fase foram realizados com 48 adultos saudáveis. Noventa e sete deles apresentaram os anticorpos no sangue depois de imunizados. O grande avanço registrado foi a ativação dos linfócitos B, células envolvidas na secreção dos anticorpos.
“Os dados deste ensaio afirmam a capacidade do imunógeno da vacina de fazer isso”, afirmou em nota à imprensa o imunologista William Schief, diretor executivo do Centro de Anticorpos Neutralizantes da Iavi.
MÉTODO DE IMUNIZAÇÃO SE APLICARIA A OUTRAS DOENÇAS
O que os cientistas conseguiram fazer foi direcionar a produção de linfócitos B virgens que atacam diferentes cepas do HIV. O método abre caminho para a produção de imunizantes contra outras doenças, como gripe, hepatite C, dengue, zika e malária.
Presidente do Departamento de Imunologia e Microbiologia do Scripps Research Institute, Dennis Burton afirmou: “Acreditamos que esse tipo de engenharia de vacina pode ser aplicado de forma mais ampla, inaugurando uma nova era na vacinologia.”
Uma parceria do Scripps e da Iavi com a empresa de biotecnologia Moderna permitirá testar um imunizante semelhante a este, mas usando o RNA mensageiro, o que apressaria o processo para a produção da vacina contra Aids. Os estudos das fases 2 e 3 serão feitos com um número maior de voluntários.
Os primeiros casos de Aids surgiram em 1977 e 1978 na África, nos Estados Unidos e no Haiti. A primeira vítima identificada teria sido a médica e pesquisadora dinamarquesa Margareth P. Rask, que morreu da doença em 1977, após uma viagem à África para estudar o vírus Ebola. No Brasil, o primeiro caso foi relatado em 1980, em São Paulo.
NOS ANOS 1980, DOENÇA ERA SENTENÇA DE MORTE
A Aids se tornou uma doença conhecida por destruir o sistema imunológico e associada a homossexuais masculinos. Pesquisadores custaram a perceber que a doença transmitida por via sanguínea podia atingir qualquer pessoa. O HIV foi descoberto em 1984, e no ano seguinte surgiram os primeiros testes para detectá-lo.
Nos anos 1980, o diagnóstico de Aids era uma sentença de morte. Com o passar dos anos, foram surgindo tratamentos eficazes. O primeiro remédio contra o HIV veio em 1986: azidotimidina (AZT). Oito anos depois começava a ser estudado um novo grupo de drogas, um coquetel que passou a permitir razoável qualidade de vida aos portadores da doença.
No Brasil, de 1980 a 1999, o Ministério da Saúde identificou 155.590 casos da doença, sendo a faixa de idade mais atingida a de 25 a 34 anos. O Programa Nacional da Aids foi criado em 1985, e considerado um dos melhores do mundo, com fornecimento universal e gratuito do coquetel a todos os portadores da doença.
Em 2007, o Ministério da Saúde quebrou a patente do Efavirenz, um dos remédios do coquetel. Em outubro do ano passado, 642 mil brasileiros estavam sendo tratados com antiretroviral. Cerca de 920 mil brasileiros vivem com o HIV.