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Cientistas propõem soluções para alimentação mundial

A ONU realiza a Cúpula dos Sistemas Alimentares no dia 23 deste mês, em sua sede, em Nova York. O objetivo é encontrar soluções para um mundo onde os sistemas alimentares estão em sério desequilíbrio: uma em cada dez pessoas é subnutrida, uma em cada quatro está acima do peso, mais de um terço da população não tem recursos para adotar uma dieta saudável e a produção de alimentos é prejudicada por secas, enchentes, ondas de calor e conflitos armados.

Pela primeira vez, a Cúpula  – a sexta realizada pela ONU desde 1943 – reunirá chefes de Estado. Eles estarão diante de questões levantadas por um grupo de cientistas que, também pela primeira vez, participa de discussões multilaterais. A missão do grupo é dar sustentação científica às soluções para os desafios da alimentação.

À frente desse grupo estão quatro cientistas: o alemão Joachim von Braun, a bengalesa Kaosar Afsana, a holandesa Louise O. Fresco e o omani Mohamed Hassan. Em artigo para a revista Nature, eles defendem mudanças em políticas, instituições e nos setores social, econômico e tecnológico. E afirmam que a ciência pode assegurar que essas mudanças sejam integradas e tenham melhores resultados.

Nunca foram tão grandes os desafios do setor de alimentos, ao qual são atribuídos 30% das emissões de gases do efeito estufa. Práticas agrícolas inadequadas são associadas à perda de florestas – 5,5 milhões de hectares por ano, a maioria nos trópicos – bem como à degradação de solos, à redução da biodiversidade e ao esgotamento e poluição de recursos hídricos.

 

SETE PRIORIDADES A SEREM ASSUMIDAS POR CIENTISTAS

O sistema alimentar, explicam os quatro especialistas, abrange campos diversos, como agricultura, saúde, ciência do clima, inteligência artificial, ciência digital, ciência política e economia. Segundo eles, os efeitos adversos de políticas para clima, perda de biodiversidade e saúde precisam ser levados em conta quando se calcula o custo dos alimentos, que seria o dobro de valor de mercado dos alimentos consumidos no mundo.

O grupo da ONU se envolveu com centenas de especialistas de diversas sociedades civis no mundo – incluindo povos indígenas, produtores e organizações de jovens – antes de chegar a sete prioridades que os cientistas do mundo inteiro devem assumir a fim de acelerar o desenvolvimento de sistemas alimentares mais saudáveis, sustentáveis e igualitários:

• Eliminar a fome e melhorar as dietas: Cientistas precisam identificar condições e oportunidades de investimentos para tornar alimentos saudáveis mais disponíveis. Pesquisa e desenvolvimento em agricultura e alimentos podem aumentar a produtividade de maneira sustentável.

• Reduzir os riscos aos sistemas alimentares: Os cientistas devem melhorar a forma como entendem, monitoram, analisam e informam vulnerabilidades dos sistemas alimentares – de secas a barreiras comerciais. O sensoriamento remoto, por exemplo, pode indicar perdas agrícolas, enquanto sistemas de irrigação com energia solar reduziriam o risco de secas.

• Proteger igualdade e direitos: Pobreza e desigualdade associados a gênero, etnia e idade restringem o acesso de pessoas a alimentos saudáveis. É preciso encontrar formas inclusivas de transformar o trabalho de 400 milhões de pequenos agricultores, protegendo suas terras. A tecnologia pode assegurar transparência e eficiência.

• Impulsionar a biociência: É preciso encontrar maneiras de recuperar solos, melhorar a eficiência da produção agrícola e “recarbonizar” terras e atmosfera. Outras necessidades são: desenvolver fontes alternativas de proteína de plantas e insetos, inclusive para ração animal; reduzir a necessidade de fertilizantes e aumentar os nutrientes; e aplicar engenharia genética e biotecnologia para aumentar a produtividade, a qualidade e a resistência de alimentos a pestes e secas.

• Proteger recursos: Cientistas devem ajudar povos a garantir a sustentabilidade de terras e águas. Dispositivos digitais e sensoriamento remoto podem rastrear concentrações de carbono e outros nutrientes no solo. Drones e sistemas de inteligência artificial podem identificar áreas carentes de irrigação, fertilização e proteção. Biodiversidade e bases genéticas precisam ser protegidas, o que inclui variedades de sementes. Sistemas tradicionais, como os de indígenas, precisam ser melhor compreendidos e mantidos.

• Sustentar alimentos aquáticos: O maior foco da agricultura está no solo, mas peixes, crustáceos e plantas aquáticas têm muito a oferecer em termos nutricionais e ambientais e devem ser mais integrados à compreensão dos sistemas alimentares. É preciso investir para aumentar a diversidade nutricional de alimentos aquáticos e sequestrar carbono em rios e oceanos, bem como para garantir a sustentabilidade e proteção desses sistemas.

• Utilizar tecnologia digital: Robôs, sensores e inteligência artificial são cada vez mais usados em colheitas e ordenha, por exemplo. Sensores podem monitorar a origem e qualidade de ingredientes, bem como o processamento de alimentos, de modo a reduzir perdas e garantir a segurança dos alimentos. Mas a maioria dos agricultores e produtores não tem acesso a esses mecanismos. É preciso torná-los mais baratos e acessíveis. Uma proposta é instituir serviços de aluguel de máquinas agrícolas semelhantes ao Uber. A Índia já faz isso com tratores.

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