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Como diminuir o vício em açúcar e manter a vida doce

Em primeiro lugar, quero dizer que não há alimento realmente ruim por si só. Claro que a melhor opção é sempre a “comida de verdade”, aquela que vem da terra, do jeito que vem – limpinha, descascadinha e temperadinha, claro. A indústria alimentar tem o intuito de ajudar e, de fato, ajuda muito. Imagine termos que plantar nosso próprio arroz ou produzir nossa própria farinha de trigo? Então, deixo aqui minha gratidão à indústria alimentar e às redes de supermercado pela facilidade que nos proporcionam.

Acontece que, muitas vezes, a indústria alimentar se aproveita de nossas fraquezas para nos fazer comprar mais e mais seus produtos. O refinamento é uma das técnicas usadas para 1) tornar os alimentos menos perecíveis (se não há mais “vida” dentro de um alimento, não há mais nada que possa estragar) e 2) viciar nosso paladar.

Deixe-me explicar o que entendo pelo termo “viciar” quando falo em comida. Todos nós temos um paladar, e ele pode ser treinado. O problema é que quanto mais alimentos simples (reduzidos em nutrientes) e refinados consumimos, menos conseguimos perceber o real sabor dos alimentos naturais. Ficamos viciados em estimulantes como sal, açúcar, gordura, aditivos usados para realçar sabor (que considero criminosos), corantes etc.

Um dos maiores vícios que observo por aí – inclusive saciado às escondidas, na solidão – está no sabor doce.

Vamos focar primeiro naquilo a que a palavra “doce” nos remete, antes de entrar na substância química do açúcar. O que é doce na vida para você? Que sentimento lhe vem quando você pensa em doce? Como é uma pessoa doce para você (dócil, no caso)? A que tipo de música, filme ou situação lhe remete um sentimento doce (no melhor sentido da palavra)?

Vou trazer um pouco das minhas associações para ver se você se identifica com elas. Quando penso em doçura, penso em aconchego, descanso, colo, carinho, amor materno, poder relaxar, entregar-me com confiança. É uma situação de desfrute, de paz profunda.

Então, pare e pense. Se associamos esses sentimentos a doce, por que as pessoas precisam de doce e procuram tanto por ele? Definitivamente, todos nós precisamos dessas qualidades em nossa vida: paz, aconchego, carinho.

E não adianta nos entupirmos de doces industrializados para tentarmos tornar nossa vida mais doce. Até temos uma satisfação temporária, afinal, o açúcar tem um efeito químico em nosso cérebro. Mas é só temporário. Por isso, procuramos de novo e de novo alimentos doces. Para manter essa sensação gostosa por mais tempo.

O problema disso tudo é que quanto mais consumimos açúcar refinado, mais o corpo se acostuma aos níveis de glicose no sangue e mais ele reage para manter esses níveis. Resumindo, quanto mais você consome, mais seu corpo precisa dessa substância. Quanto menos você consome, mais seu corpo relaxa e fica bem com os açúcares encontrados naturalmente nos alimentos.

Mas, o que fazer? Demonizar o açúcar e nunca mais consumi-lo? Pouco provável. Fazemos parte dessa sociedade e somos humanos. Jogar a toalha e comer tudo que der vontade? Por um lado, sim, mas sem essa parte de “jogar a toalha”.

Não há nada de errado no desejo por doce. Temos necessidade real da energia fornecida por carboidratos e açúcares – em momentos de TPM, por exemplo. E tudo bem. E temos também carências e desejos que às vezes não sabemos resolver de outra forma que não seja comendo um pedaço de chocolate ou um biscoito. E tudo bem também!

A grande questão é a forma como nos relacionamos com o chocolate e o biscoito. Estamos comendo realmente porque estamos com vontade, é gostoso e nos faz bem? Ou já virou um costume, um piloto automático, um tapa-buraco? É aí que, para mim, acende o sinal de alerta. E é aí que entra também a solução.

Coma com consciência. Desfrutando. Cheire seu alimento, mesmo que seja um produto industrializado. Sinta se ele realmente lhe traz prazer. Observe como você se sente comendo-o. Enquanto estiver realmente gostoso e você conseguir comê-lo com atenção, desfrutando, tudo bem. Dificilmente comemos demais quando comemos com essa qualidade de presença.

O problema está no comer furtivo, escondido, rápido, ou na frente do computador ou da televisão, sem nem perceber direito o que estamos dando para nosso corpo.

Segunda dica: veja se não há um alimento menos industrializado que possa satisfazer tanto quanto sua vontade de comer doce. De verdade. É claro que se você estiver com desejo de biscoito, não adianta querer se satisfazer com maçã. Mas talvez uma torrada com geleia caseira tenha efeito semelhante. Experimente.

Ou uma banana com manteiga de amendoim. Ou uma uva congelada. Sim, você leu direito. Esta é uma das melhores descobertas que fiz nos últimos anos: uvinhas congeladas. Parecem bombons gelados, megadoces e que trazem aquele efeito de “belisquete”.

A vantagem dessas substituições é que elas não desencadeiam o que chamo de vício. Elas saciam e satisfazem muito mais rápido, porque nutrem mais e liberam o açúcar de forma mais natural – e não despertam aquele cérebro enlouquecido pelo efeito do açúcar refinado.

Experimente e me diga o que acha!

Verena Ici é instrutora de mindful eating e consultora alimentar.  

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