Se muitos problemas do planeta ainda estão longe de ser resolvidos, novas gerações já acionam seus neurônios para identificar – e solucionar – aqueles que as sensibilizam. É o caso da jovem americana Gitanjali Rao, de 15 anos. Apontada como gênio da ciência, ela está inaugurando o título de Criança do Ano, categoria recém-criada pela Time, conhecida pela tradicional escolha da Personalidade do Ano. Foi selecionada entre mais de 5 mil concorrentes e teve sua imagem estampada na capa de recente edição da revista.
Descendente de indianos e moradora de Denver, Colorado, Gintanjali é aluna do ensino médio na Stem School Highlands Ranch, uma escola especializada em ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Ela chamou a atenção da comunidade científica e da mídia ao utilizar inteligência artificial para criar dispositivos com objetivos como detectar contaminação de água, bulliyng na internet e dependência de opioides.
Entre uma aula à distância e outra, a jovem esbanjou objetividade e clareza de raciocínio ao falar pelo Zoom com a atriz Angelina Jolie – ativista de direitos humanos e colaboradora da Time – sobre o que considera relevante para seus pares: “Observe, procure ideias, pesquise, construa e comunique.” E ainda: “Não tente resolver todos os problemas, apenas se concentre em um que o estimule. Se eu posso fazer isso, qualquer um pode.”
Gintanjali contou a Angelina que sempre gostou de fazer as pessoas sorrirem. “Esse era meu objetivo diário, fazer alguém feliz. E logo isso se transformou em: como podemos trazer positividade e comunidade para o lugar onde vivemos?” E assim ela começou a pensar em usar ciência e tecnologia para promover mudanças sociais.
OBJETIVO DE INCENTIVAR OUTROS JOVENS
Aos dez anos, Gintajali disse aos pais que queria pesquisar tecnologia do sensor de nanotubos de carbono no laboratório de qualidade de água de Denver. Claro que eles não faziam a menor ideia de que ela se referia a moléculas cilíndricas, feitas de átomos de carbono, sensíveis a alterações químicas e, portanto, capazes de detectar substâncias químicas na água. “Espero que seja algo barato e preciso para que as pessoas em países do terceiro mundo possam identificar o que há em suas águas”, disse ela.
Outro foco de seu interesse é o serviço que batizou de Kindly (Gentilmente). Trata-se de um aplicativo capaz de captar atitudes de bullying no espaço virtual desde as primeiras manifestações, por meio de inteligência artificial. Para isso, Gintajali começou a alimentar seu sistema com palavras que poderiam ser consideradas intimidações. O mecanismo passou a identificá-las e dar ao usuário a opção de usá-las ou não. “O objetivo não é punir”, assinalou a jovem, mas sim dar a chance de pensar duas vezes antes de demonstrar um comportamento nocivo.
Aficionada também por genética, ela ainda desenvolve um produto para ajudar a diagnosticar o vício em opioides em estágio inicial, com base na produção de proteínas do gene do receptor de opioides.
Gintajali disse que seu objetivo deixou de ser criar dispositivos que resolvam problemas do mundo e passou a ser inspirar outros a fazer o mesmo que ela. Para isso, ela começou a oferecer oficinas de inovação. Hoje, tem parcerias com escolas rurais, museus e organizações científicas e tecnológicas mundo afora. Comemorando ter atingido a meta de orientar 30 mil estudantes, acredita ter criado uma comunidade de inovadores.
“Nossa geração está enfrentando muitos problemas que nunca havíamos visto”, afirmou a jovem inventora. “Mas ao mesmo tempo estamos enfrentando antigos problemas que ainda existem. Estamos sentados aqui no meio de uma pandemia global e ainda enfrentando questões de direitos humanos. Há problemas que nós não criamos mas que agora precisamos resolver, como a mudança climática e cyberbullying, com a introdução de tecnologias.”