O bilionário Elon Musk, fundador da SpaceX, causou expectativa – como de hábito – ao afirmar, recentemente: “Neste momento, sinto-me altamente confiante de que entraremos em órbita este ano”. Ele estava se referindo a um de seus mais ousados projetos: o Starship, um imenso e poderoso foguete que promete revolucionar a indústria espacial e viabilizar a vida interplanetária.
Com quase 120 metros de altura, o Starship conta com um impulsionador grande o bastante para lhe permitir transportar mais de cem toneladas ao espaço – rumo à Lua ou a Marte. E seria totalmente reutilizável, ou seja, permitiria viagens espaciais “antes impossíveis”, como descreve a Space X em seu guia sobre o foguete.
A possibilidade de ser reutilizado e a enorme capacidade de carga do Starship favoreceriam de forma inédita as questões financeiras envolvidas nas viagens espaciais, seja para envio de pessoas ou cargas. Musk instigou o público: “Haverá alguns anúncios futuros que vão deixar as pessoas bem entusiasmadas.”
A Nasa (agência espacial americana) deu provas de que confia nas ambições de Musk ao lhe oferecer, no ano passado, um contrato de US$ 2,9 bilhões para levar astronautas à Lua. Isso depois de a SpaceX se tornar, em 2020, a primeira corporação privada a enviar astronautas à Estação Espacial Internacional num foguete reutilizável, o Falcon 9.
Musk, porém, é conhecido por apresentar cronogramas ambiciosos e descumpri-los. O próprio Starship já havia sido programado para viajar em janeiro ou fevereiro. O adiamento do lançamento foi atribuído a avaliações ambientais da Administração Federal de Aviação dos EUA, bem como a problemas de hardware. Mas, na recente declaração, o megaempresário insistiu: “Isso vai parecer totalmente louco, mas acho que queremos tentar alcançar a órbita em menos de seis meses.”
SPACEX À FRENTE DE OUTRAS EMPRESAS ESPACIAIS
Em depoimento à DW, o físico Casey Handmer, fundador da startup de captura de carbono Terraform Industries, deu a medida do que representaria o superfoguete da SpaceX: “Um Starship totalmente funcional tornaria todos os sistemas de lançamento tão obsoletos, que eles poderiam nunca ter existido.”
Em seu blog, Handmer comentou que o Startship poderia “permitir uma capacidade logística de esteira rolante para a órbita baixa da Terra”. E acrescentou: “Quem estiver em condições de explorar essa grande mudança prosperará, enquanto todos os demais desaparecerão rapidamente na obscuridade.”
Por hora, parece não haver projetos comparáveis ao Starship, e mesmo aos que o precederam na SpaceX. Em dezembro, a empresa de Musk teve aprovados mais três voos para a Nasa. Enquanto isso, a Boeing – que também assinou contrato com a agência americana para levar astronautas à Estação Espacial – enfrentava problemas com sua nave Starliner.
A empresa espacial europeia ArianeGroup programou para 2026 um sistema de lançamento reutilizável, batizado de Maïa, com capacidade para uma tonelada métrica. Nada que se compare às cem toneladas ambicionadas por Musk.
Bruno Le Maire, ministro das finanças francês, chamou o Maïa de “nosso Falcon 9”, comparando-o a um produto da SpaceX já obsoleto. Em depoimento ao Financial Times, Faith Ozmen, um dos fundadores da empresa espacial Sierra Nevada Corp., comentou: “Se não tomarem cuidado, a SpaceX será o único player.”
Com informações de artigo de Kristie Pladson para a DW.