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Emoções: como lidar com elas?

As emoções são um tema controverso porque desde cedo nos ensinam a controlar e a ocultar nossas emoções, embora elas estejam aí todo o tempo, não importa o nível de controle que tenhamos desenvolvido.

Ilusoriamente pensamos que com o controle deixamos de sentir. O que ocorre, segundo Rosa Barriuso, é que essas emoções “não transitadas” por nós vão brotar de outra forma, e surgem as somatizações. Eu arriscaria dizer que todos nós, sem exceção, já experimentamos alguma, ainda que não tenhamos tido consciência de se tratar de uma emoção mal digerida ou não escutada que busca se expressar.

Portanto, podemos definir que o controle ou a repressão não são formas inteligentes de lidarmos com nossas emoções. Simplesmente porque não desaparecem, não evaporam dentro de nós. Podem ficar escondidas por algum tempo, mas em algum momento vão forçar a porta do esconderijo, e quando não saem em explosão saem em forma de mal-estar físico, mental e emocional.

As emoções são a parte inicial de um sistema altamente complexo e refinado dentro de nós, que se for processado em suas diferentes etapas de forma inteligente, termina em ação efetiva. Se não me permitir sentir estarei anulando uma parte do processo mental de meu cérebro, e criando o que Fred Kofman chama de uma dívida emocional dentro de mim, que será cobrada mais cedo ou mais tarde.

Segundo, Rosa Barriuso, quando “confundimos sentir a emoção com a resposta da emoção é que geramos uma confusão.” Ou seja, uma coisa é sentir, reconhecer e validar a emoção, e outra é escolher qual a resposta que parece mais adequada nesse momento. Quando permito que esse processo aconteça em toda a sua integralidade e com clareza, a chance de surgir uma resposta inteligente e adaptativa é grande.

Como desde pequenos fomos fortemente alertados sobre as emoções, no fundo o que não queremos é manifestá-las de forma negativa. E, como não sabemos lidar com elas, as colocamos em um lugar inferior ao processo racional. Porém, como já expliquei em outro artigo (“O que você precisa saber sobre suas emoções”, publicado no Linkedin), a racionalidade não pode existir sem a emocionalidade. O que necessitamos é aprender a reconhecer, validar e regular nossas emoções.

Como Fred Kofman diz, temos medo das emoções porque não sabemos lidar com elas.

Rosa Barriuso lembra que, quando não temos “boas relações” com certas emoções, como a tristeza, a raiva, a inveja, e outras tantas que conhecemos muito bem como rejeitadas, elas podem brotar inesperadamente e nos surpreender. Choramos lençóis em enterros de mortos que mal conhecemos, nos atravessa uma raiva desproporcional no meio do trânsito, nos surpreendemos desconfortáveis porque alguém foi reconhecido por seus méritos.

Cada uma dessas emoções necessita um espaço de intimidade dentro de nós. Quando existe esse espaço, ela dificilmente surgirá como uma “avalanche”, mas chegará dando sinais que saberemos reconhecer sua presença, o que nos permitirá entendê-la, administrá-la, regulá-la. E se dissolverá dentro de nós, ficando registrada como uma nova aprendizagem sobre nosso universo emocional.

Ter inveja não é problema, nem feio, embora tenham nos ensinado isso. O problema é quando vem acompanhada de uma emoção de desvalor, de baixa estima sobe nós mesmos. Uma inveja bem administrada pode nos alavancar. A inveja intensa é uma emoção que nos pede rever o valor que temos sobre nós mesmos.

A raiva é uma emoção útil porque coloca você em ação. O problema está na intensidade, que faz com que você atravesse limites que causam danos a outros e a si mesmo. É uma emoção que pede uma reflexão sobre sua clareza em relação aos seus próprios limites, e sobre a clareza com que coloca seus limites, para que os outros não os ultrapassem causando danos a você.

A tristeza apenas significa que algo valoroso para você foi perdido ou está sob ameaça. É uma emoção que pede esse reconhecimento. Quando você não a reconhece, geralmente pelo medo de que tome conta de você e se transforme em depressão, ou pela crença de que pessoas bem-sucedidas não devem ficar tristes, cuidado, porque pode estar plantando a semente de estados de ânimo oscilantes ou de uma depressão futura.

Assim, meu amigo, temos que aprender sobre nossas emoções, essas incríveis mensageiras que acionam nossa fisiologia nos avisando o que o mundo externo deflagrou em nós, para que a partir dessa informação usemos nossos melhores e mais inteligentes recursos internos e corticais, para escolhermos a melhor resposta possível nesse momento.

Como diz Rosa Barriuso, “tenho que aprender a não ignorar ou controlar, e sim ser consciente de minhas emoções, aceitando-as no momento que surgem a partir das situações que a provocam, e é dessa aceitação e consciência que se abre um espaço para surgir uma resposta emocionalmente mais inteligente, que dará uma melhor resposta à demanda da situação”.

Se quiser começar um treinamento emocional, sugiro o seguinte exercício: Reflita e escolha qual a emoção “negativa” é deflagrada com maior frequência em você. Por duas semanas anote todas as vezes que surgir, o “motivo” que a deflagrou e como respondeu, interna e externamente ao surgimento dessa emoção. Após esse período de observação, faça uma análise desses dados que poderão lhe informar a que tipo de estímulo você precisa se preparar melhor, e que tipo de resposta mais eficaz poderá ter em uma próxima vez. Com esses dados em mãos, comece a treinar seu músculo de habilidade emocional sobre essa emoção. Faça esse exercício para cada emoção que julgar “difícil”.

Como temos um sistema interno altamente conectado, quando treinamos uma emoção, o sistema como um todo se torna mais capacitado para outras emoções.

Treinar o músculo da habilidade emocional será fundamental para qualquer área de nossa vida, porque nosso mundo emocional se projeta para o exterior, podendo definir nosso projeto de vida.

Por Berenice Kuenerz

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