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Empresas atestam benefícios da ‘liderança do sono’

Cofundador e CEO da Basecamp, uma empresa americana de software, Jason Fried adotou uma metodologia para si próprio e para seus funcionários. Ele a chama de “oito-oito-oito”: oito horas de trabalho, oito horas de sono e oito horas de vida entre elas. Entre os motivos que o levaram a estabelecer a medida está a constatação de que todos precisam dormir e quem dorme bem trabalha melhor. É também uma forma de evitar o burnout, o esgotamento emocional tão comum hoje em dia, e associado à pandemia.

“O que acaba acontecendo com a maioria das pessoas é que o trabalho fica com a maior parte. A vida é aquilo que você tenta encaixar nos espaços vagos e o sono é o que sobrou”, analisou Fried em depoimento à BBC. Para ele, priorizar o sono é uma medida importante para ser um bom líder.

Aparentemente, a postura desse CEO contraria a de muitos líderes que ainda veem na sobrecarga de trabalho uma espécie de trunfo. “Especialmente na indústria de tecnologia”, observou Fried, “você ouve as pessoas se gabarem: ‘dormi só três horas’ ou ‘passei a noite toda trabalhando’.” Ele acrescentou: “Ninguém tem resistência, nem capacidade mental, para trabalhar 14 horas [por dia].”

Fried é um exemplo vivo do que vem sendo chamado de “liderança do sono”. Professora de psicologia da Universidade do Estado de Portland, nos Estados Unidos, Tori Crain explica: “De um lado, existe a questão de apoiar os funcionários na questão do sono. Coisas como um supervisor que verifica como eles estão demonstrando cuidado e preocupação. E existe esse outro componente que é mais uma questão de compreensão e comunicação da importância do sono para se fazer um bom trabalho, com bons resultados para a empresa.”

Para Crain, essa é uma postura que “pode se traduzir em liderar de uma forma que ajude os funcionários a dormir mais, servindo de modelo para eles – demonstrando como os próprios líderes estão dormindo, equilibrando o trabalho e o sono e como eles estão pensando sobre o sono com relação ao seu trabalho”.

 

UMA POLÍTICA QUE VAI ALÉM DO HORÁRIO DE TRABALHO

A pandemia tornou mais comuns as políticas de trabalho mais flexíveis, bem como os programas de saúde mental para trabalhadores. Os incentivos a um período de sono adequado vieram nesse rastro.

Para a neurocientista do sono suíça Els van der Helm, o ambiente de trabalho deixou de ser inadequado para discutir problemas pessoais, entre os quais o sono. “Uma geração mais jovem de trabalhadores mudou esse tabu radicalmente”, disse ela. “Eles querem falar sobre todos esses temas pessoais no trabalho, porque, para eles, o trabalho e a vida pessoal estão muito mais misturados.”

O hábito de dormir depois do almoço é tradicional em países europeus, como Espanha e Itália, e hoje em dia não faltam empresas que incentivam a prática, inclusive oferecendo salas para tirar uma soneca. Mas o conceito de liderança do sono amplia essa questão, propondo políticas de higiene do sono fora do horário de trabalho. Na empresa de seguros Aetna, por exemplo, quem tem uma boa noite de sono (comprovada por pulseiras de monitoramento) recebe um incentivo financeiro.

O CEO da Basecamp não tem dúvidas quanto aos benefícios de uma noite bem dormida. “Quando você está cansado, trabalha mal”, diz ele. “Você não pensa com clareza, nem é um bom líder para os demais. Se você chefia uma equipe ou está encarregado de outras pessoas e não dormiu o suficiente, você torna a vida deles muito mais difícil.”

Pesquisas confirmam essa constatação, mostrando que líderes privados de sono tendem a ter menos seguidores e que quem dorme pouco tem pior desempenho. Segundo Crain, trabalhadores que dormem mal “são mais propensos a reagir a fatores de estresse no ambiente de trabalho e têm mais dificuldade para controlar suas emoções”.

 

Com informações de artigo de Kate Morgan para a BBC Worklife.

 

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