Facilmente encontrada em quintais brasileiros, e popular em muitos países, a fruta-pão é forte candidata a se tornar o próximo superalimento no mundo, disseram pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá. Segundo eles, a fruta-pão (Artocarpus altilis) tem potencial para melhorar a segurança alimentar no planeta e reduzir a incidência de diabetes.
A fruta-pão pode ser consumida em estado natural ou seca, podendo também ser moída e transformada numa farinha sem glúten. Em uma série de estudos, os cientistas do Canadá analisaram o impacto da farinha da fruta desidratada sobre a dieta de camundongos. Depois de alimentados três semanas com essa farinha, os animais apresentaram índice de crescimento e peso corporal muito superiores aos daqueles que comeram basicamente trigo.
Usando um modelo de digestão de enzimas, os pesquisadores também constataram que a proteína da fruta-pão é mais facilmente digerida que a do trigo.
Para Ying Liu, que liderou os estudos, a fruta-pão pode representar a sustentabilidade alimentar para muitas populações no mundo. Como exemplo, ele lembrou que, em média, os americanos consomem diariamente 189 gramas de grãos. Essa quantidade de fruta-pão, segundo ele, corresponderia a quase 57% das necessidades diárias de fibra e a mais de 34% nas necessidades de proteína, garantindo ainda vitamina C, potássio, cálcio, ferro e fósforo.
Em comunicado à imprensa, Liu afirmou: “Em geral, esses estudos sustentam o uso da fruta-pão como parte de uma dieta saudável e com equilíbrio nutricional. A farinha produzida com fruta-pão não tem glúten, tem baixo índice glicêmico, é rica em nutrientes e é uma opção de proteína completa para alimentos modernos.”
ÁRVORE DA FRUTA-PÃO É FARMÁCIA NATURAL
Os predicados da fruta-pão e de sua árvore são conhecidos há tempos por Diane Ragone, pesquisadora do Jardim Botânico Tropical do Havaí. Integrante do grupo local Aliança para Acabar com a Fome, ela estuda a espécie desde os anos 1980 e criou um instituto dedicado a ela.
Pesquisas anteriores à dos canadenses já indicavam o potencial nutritivo da árvore da fruta-pão, chegando a considerá-la uma verdadeira farmácia natural. As raízes previnem diarreia, os frutos são eficazes no tratamento de tumores e diabetes, as flores agem como hidratantes naturais e as sementes estimulam o funcionamento do estômago e dos rins. O látex produzido pela fruta tem efeito cicatrizante.
Parente da jaca e originária da Malásia, a fruta-pão foi levada por ingleses para suas colônias nas Antilhas, a fim de garantir um alimento barato e farto às populações. Francisco de Souza Coutinho, que governou o Pará em meados do século XVI, mandou buscar mudas na Guiana Francesa e as introduziu ali e no Maranhão. Dom João VI também investiu na fruta-pão para alimentar a população carente de seu império tropical.
Base alimentar de povos ilhéus da Polinésia, a fruta-pão deve seu nome à sua qualidade de gerar uma farinha usada no preparo de pães. Sua poupa, depois de cozida e assada, vira um doce com sabor que lembra o da batata-doce. As sementes, por sua vez, podem temperar guisados e ensopados. Os frutos podem chegar a ter três quilos e vinte centímetros de comprimento, especialmente em climas quentes e úmidos. Por aqui, a árvore é bem comum no litoral nordestino e nas matas do Pará.
Diz uma lenda havaiana que a fruta-pão nasceu do sacrifício do deus da guerra, Ku. Vivendo secretamente entre os mortais como fazendeiro, o deus se casou e teve filhos. Quando sua família começou a passar fome na ilha em que vivia, Ku disse à esposa que os salvaria, mas para isso precisaria deixá-los. No local de seu desaparecimento, regado por lágrimas da família, nasceu uma árvore frondosa, cujos frutos alimentaram muita gente.