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Hay que entristecer, pero sin perder el humor jamás

Paradoxalmente ou não, a tristeza em que tantos brasileiros mergulharam pela morte do humorista Paulo Gustavo transparece a importância da alegria para os seres humanos. E a falta que ela nos faz. O bom humor nos ajuda a suportar as mazelas da vida, que ultimamente não têm sido poucas. Mantê-lo pode ser essencial para cultuarmos relações saudáveis e enriquecedoras.

Em O riso, o filósofo francês Henri Bergson (1859-1941), ganhador do Nobel de Literatura, afirma que o humor tem uma função purgativa. Ele diz também que rimos da rigidez do mecanismo em que vivemos. Um exemplo disso seria a graça que achamos em alguém que repete os mesmos gestos enquanto fala. Rimos do que nos parece ridículo, absurdo, inusitado, mas, fundamentalmente, rimos de nós mesmos. Mesmo quando estamos rindo do outro.

No artigo “O filósofo que ri e o humorista, segundo Kant”, Márcio Susuki, professor do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo, lembra essa figura presente nas reflexões do alemão Immanuel Kant (Alemanha, 1724-1804): o filósofo que ri, para o qual a capacidade de rir é, principalmente, a capacidade de rir das coisas a que se confere equivocadamente grande importância. Descontração talvez seja a palavra-chave aqui.

Susuki se refere a um filósofo ainda mais antigo, Epicuro (Grécia, 341 a.C-270 a.C): “Saber tirar o peso de algo que pode levar ao sofrimento e à tristeza foi um dos ensinamentos de Epicuro, cuja maior qualidade era, para Kant, a de manter sempre o coração ‘alegre e satisfeito’. Epicuro sabia se manter sempre alegre, porque conseguia impedir que aquilo que afetava o seu corpo, a sua sensibilidade, chegasse ao seu íntimo, ao seu ânimo ou mente.”

A ideia é não permitir que a dor tome conta do coração, não deixar que ela abale o seu estado de espírito. Mas como dizer isso aos fãs de Paulo Gustavo inconformados com sua morte prematura? Talvez seja mais fácil respeitar essa dor e simplesmente admitir que há momentos de alegria e tristeza na vida. Um sentimento não existe sem o outro.

Perder alguém que trazia alegria à vida pode, claro, ser um motivo de tristeza. A emoção é inevitável. Mas, como no ato de resistência pelo humor que pregava, Paulo Gustavo será muito mais lembrado por seu talento singular de espalhar alegria do que por sua morte. No fim das contas, toda a graça que ele trouxe à vida tem muito mais importância do que a tristeza de perdê-lo.

Bruno Casotti é jornalista e tradutor. 

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