Uma líder indígena do Peru é ganhadora de um dos maiores prêmios ambientais do mundo. Liz Chicaje Churai foi reconhecida por seu esforço fundamental para a criação do Parque Nacional de Yaguas, que preserva 860 mil hectares de floresta amazônica. Aos 38 anos, ela recebeu o Goldman Prize, concedido anualmente a ativistas ambientais de seis regiões geográficas do planeta, e chamado de “Prêmio Nobel Verde”.
Liz foi premiada como representante das Américas Central e do Sul. Membro da comunidade Bora, ela vive em Loreto, nos arredores do parque, perto da fronteira com a Colômbia. Foi indicada para o Goldman juntamente com Benjamín Rodríguez, líder do grupo Huitoto que morreu no ano passado por complicações decorrentes de Covid-19.
“Ele era um homem muito lutador. Meu desejo é continuar ensinando às pessoas que a natureza é nossa maior riqueza”, disse a líder em vídeo da Goldman Environmental Foundation.
O parque foi fundado em 2018, coroando uma campanha conduzida em grande parte por Liz e Rodríguez. Segundo os responsáveis pelo prêmio, sua criação vem sendo fundamental para a preservação de uma região que abriga uma das maiores biodiversidades do planeta.
Em Yaguas, foram registrados 3 mil espécies de plantas, 500 de aves e 550 de peixes, além de mamíferos como golfinhos, lontras e macacos. A proteção da área tem evitado a pesca predatória e afastado madeireiros e mineradores ilegais.
INDÍGENAS FORMARAM COALIZÃO DE 23 COMUNIDADES
Liz se tornou ativista aos 16 anos. Mais tarde, presidiu uma federação de comunidades indígenas local e hoje está à frente de uma cooperativa agrícola. Ela ajudou a formar uma coalizão que juntou 23 das 29 comunidades locais em prol da criação do parque.
Unidos, os indígenas obtiveram um mapa por satélite da região e documentaram a biodiversidade local. O mais difícil foi convencer as autoridades peruanas a criar o parque. “Queriam negociar comigo, mas não entrei para negociar. Entrei para defender os direitos dos povos indígenas”, afirmou Liz.
Representantes indígenas foram a Lima defender a causa junto ao governo e congressistas. Contaram com a ajuda de ambientalistas e viajaram ao exterior, onde conseguiram apoio da Frankfurt Zoological Society (Alemanha) e do Field Museum de Chicago.
“Vivemos na selva, nós a conhecemos melhor do que qualquer um, caminhamos nela, portanto o desejo de proteger esse território e as pessoas que dependem dele se desenvolve naturalmente”, afirmou Liz à BBC. Ela lembrou ainda que a floresta tem importância espiritual para seu povo e lhe dá o sustento desde tempos ancestrais.
OS OUTROS VENCEDORES E SUAS AÇÕES AMBIENTAIS
Sobre a mensagem que gostaria de transmitir como ganhadora do prêmio, a líder afirmou: “Continuem tendo fé na floresta e no meio ambiente, que é a base do planeta Terra.” E sobre sua motivação: “Você tem que ter amor por sua terra, pela floresta, por sua comunidade, pelas pessoas.”
Os outros ganhadores do Goldman este ano são: Gloria Majiga-Kamoto, que conduziu um movimento para abolir a poluição por plásticos no Malawi; Thai Van Nyugen, fundador de uma organização vietnamita que salvou 1.540 pangolins; Kimiko Hirata, líder de uma campanha que levou à desativação de treze usinas de energia a carvão no Japão; Maida Bilal, dirigente de um grupo de mulheres que impediu a construção de duas barragens na Bósnia Herzegovina; e Sharon Lavigne, educadora e advogada que impediu a instalação de uma fábrica de plásticos às margens do rio Mississippi, nos Estados Unidos.
A cerimônia virtual da entrega do prêmio teve participação da atriz Jane Fonda, exibição de vídeos sobre os seis ganhadores e apresentações musicais exclusivas de Lenny Kravitz e Baaba Maal.
Vice-presidente da Goldman Environmental Foundation, Susan Gelman afirmou: “Os vencedores do prêmio esta noite têm muito a nos ensinar sobre o caminho a seguir e como manter o equilíbrio com a natureza, que é a chave para a nossa sobrevivência. A pandemia, disse ela, é um lembrete do que acontece quando os seres humanos perdem o equilíbrio com a natureza.
O prêmio foi criado em 1989 pelo empresário americano Richard Goldman (1920-2010) e sua esposa, Rhoda (1924-1996), conhecidos pela dedicação à arte, cultura, questões judaicas e meio ambiente. A fundação hoje é presidida por John Goldman, um dos quatro filhos do casal.