Foi em meio ao isolamento imposto pela pandemia que o norte-irlandês Dara McAnaulty lançou seu primeiro livro, aos 16 anos. Diary of a Young Naturalist chegou ao mercado britânico num momento em que o autor não podia encontrar amigos e muito menos oferecer noites de autógrafos. No Twitter, ele confessou seu desânimo: “Honestamente, sinto que meu mundo está desabando neste momento.”
Passados muitos meses, e já com 17 anos, Dara está bem mais animado. Seu livro é um sucesso absoluto no Reino Unido e foi lançado recentemente nos Estados Unidos, enquanto ele começa a ficar conhecido como um dos mais jovens e talentosos naturalistas do planeta. Por seu ativismo ambiental, tem sido comparado a Greta Thunberg, a sueca que conquistou a simpatia do mundo com seu movimento de combate à mudança climática.
Ambos são da mesma geração e têm ideais parecidos. Greta foi diagnosticada com síndrome de Asperger. Dara tem autismo. São distúrbios semelhantes, caracterizados por uma maneira diferente de ver o mundo e se comunicar com os outros. Ela o inspirou a liderar um movimento estudantil contra a inação diante da mudança climática, que já mobiliza milhares de pessoas.
Recheado de descrições da natureza, Diary of a Young Naturalist narra a transição do autor dos 13 para os 14 anos. Patrick Barkham, jornalista do Guardian especializado em história natural, descreveu a obra como “uma combinação de livro de natureza e memórias, um caloroso retrato de uma família unida e uma história de passagem para a maturidade”.
O livro tem recebido elogios rasgados de críticos e uma enxurrada de leitores entusiasmados. “É realmente uma experiência estranha e mágica”, comentou Christopher Hart em resenha para o Daily Mail.
CONTATO COM A NATUREZA PERTO DE CASA
Cabelo grande e óculos de grau, Dara mora com os pais e dois irmãos mais novos, também autistas, numa casa em Castlewellan. Ali, tem acesso rápido a um bosque, seu imprescindível refúgio. “Se eu não tivesse isso, estaria completamente insano”, já disse ele.
Seu crescimento foi marcado por superações. Por causa do autismo, os ruídos na sala de aula o incomodavam. Um professor chegou a lhe dizer que ele jamais seria capaz de montar um parágrafo. As coisas começaram a melhorar quando seu pai, cientista conservacionista, foi transferido de Belfast para o interior, o que permitiu ao menino cultivar sua precoce paixão pela natureza.
No blog que mantém desde os 12 anos, Dara conta: “O volume diminuiu o bastante para ouvir coisas e descobrimos lugares tranquilos e cheios de vida, com plantas e animais silvestres. Senti uma onda crescendo dentro de mim. Adoro esse lugar, em cada canto onde vamos a magia acontece. O volume que grita em minha mente diminuiu e os pensamentos e palavras começaram a transbordar.”
Dara ganhou uma legião de fãs no blog, onde suas primeiras palavras são: “Quando eu era muito pequeno, engatinhava para pegar qualquer coisa que se movesse. Para mim, a natureza era a fonte de toda admiração e curiosidade. Cada chiado, grasnido, bater de asas e zumbido me enchia de desejo de aprender mais, e agora que posso entender isso, eu me sinto conectado com um mundo que era opressivo e confuso.”
INCENTIVO À PROTEÇÃO DO MUNDO NATURAL
Em setembro do ano passado, Dara se tornou o mais jovem autor a receber o Wainwright Prize, o maior prêmio literário britânico para textos sobre natureza. Outros quatro prêmios vieram e ele se tornou embaixador da Sociedade Real para Prevenção de Crueldade aos Animais.
O jovem escritor disse ao Guardian que sua maior inspiração literária é Seamus Heaney, poeta e escritor da Irlanda do Norte ganhador do Nobel. Afirmou também que o Twitter abriu seu mundo para pessoas que pensam como ele e que é fã de Agatha Christie, por ela focar nos motivos ocultos das pessoas. “Isso é bem importante para mim”, explicou, “porque tento aprender o máximo sobre humanos para poder fazer interações sociais aceitáveis.”
Em seu segundo livro, Wild Child, lançado este mês no Reino Unido, Dara incentiva as crianças a proteger o mundo natural. E ele já planeja um terceiro, sobre suas andanças pela natureza da Irlanda. Ao New York Times, afirmou: “Eu preciso escrever, processar o que está acontecendo, do contrário tudo fica batendo em meu cérebro, causando danos ali.”