Um momento pode se eternizar de diversas maneiras. Monalisa é um exemplo. Para mim, Da Vinci não pintou uma tela. Aquele quadro é, na verdade, uma fotografia. Batida durante vários e vários dias.
Fotografias, por sua vez, nem sempre eternizam momentos. Apenas registram instantes. O que faz de um momento algo eterno é o misto de prazer com entrega.
Ah, então toda transa é eterna? Óbvio que não. Há casais que acham que fazem amor, mas na verdade copulam. Ou nem isso, cumprem obrigações, entre aspas, contratuais. Existe até quem goze mais pelo alívio de, após um breve e insípido encontro carnal, saber que o próximo tende a demorar.
Contudo, há momentos que realmente ficam cravados em nossa memória. O nascimento de um filho. A morte de um parente próximo ou de um animal doméstico. A despedida de um grande amigo que vai morar fora. O boletim indicando que você repetiu de ano. A aprovação no vestibular. O gol do título marcado nos momentos finais. O encontro cara a cara com seu ídolo de infância. A chegada da noiva à igreja. As lágrimas de um inevitável fim de relacionamento.
No campo do amor, o momento eterno que só vem da entrega com prazer requer dois elementos que nem todo ser humano aprende direito a manusear. Coração e alma.
A entrega que eu falo não se dá somente com o corpo. Não é a presença ao lado, seja numa festa, num evento ou mesmo na cama. A entrega é feita com o coração.
O prazer que eu digo também está longe de ser o do orgasmo ao fim do ato sexual. Tampouco o do suor após vencer na pelada ou a meta alcançada na prova final. O verdadeiro prazer é o que incendeia a alma.
Grandes vitórias para um torcedor nem sempre são inesquecíveis para o jogador que protagonizou determinada partida. Uma nota 10 no teste pode significar menos do que um 8 que o colega recebeu. Uma lingerie de cinema talvez não encha de tesão seu parceiro. Assim como a música que você não consegue parar de ouvir, às vezes é a última coisa que seu companheiro deseja escutar.
O momento eterno é vivenciado de forma estritamente particular por cada um de nós. Na situação que for – e de acordo com a superação de obstáculos ou a comunhão com seu cosmos – num azado instante. Não é passível de explicação. Nem adianta tentar contar a um terceiro, assim que chegar ao trabalho. É subjetivo. Foro íntimo.
Entretanto, pode, sim, ser vivido a dois. Quando há mais do que encontro: há fusão. Quando os cinco sentidos se expandem e se complementam. Quando a entrega é total, o prazer tende a ser surreal. Nessas horas, impossíveis de saírem da cabeça até que outra emoção ainda mais forte lhe ocupe o lugar, seu coração bate não mais no peito, mas na alma do outro. E a alma dele ou dela finca feito mastro de bandeira, para sempre, no seu coração.
Este clique, nem o mais tarimbado fotógrafo teria sucesso ao tentar registrar. Esta foto, nem querendo e a todo custo, conseguirás rasgar.