Eles vagam pelo mundo há anos, mas com a pandemia ganharam impulso. Cresce a cada dia o número de nômades digitais, ou seja, pessoas que, por trabalharem remotamente, podem se dar ao luxo de viver em lugares diferentes pelo tempo que quiserem. Não por acaso, a prefeitura do Rio de Janeiro lançou recentemente o programa Rio Digital Nomads, que certifica hotéis, pousadas e estabelecimentos de coworking com condições de receber visitantes dispostos a passar longos períodos na cidade.
Se antes o nomadismo digital era mais associado à turma da tecnologia de informação, hoje a prática é adotada por profissionais de outras áreas. Gente que só precisa de um laptop e acesso à internet para realizar seu trabalho. Para muitos, é uma oportunidade de viver em lugares mais tranquilos ou conhecer outras cidades. Por isso mesmo a prática foi apelidada de bleisure, uma combinação de business (negócios) com leisure (lazer).
“A relação das pessoas com o trabalho mudou em todo o planeta, permitindo que muitos decidam em qual cidade viver, independentemente de onde funciona a sua empresa”, afirmou em comunicado à imprensa Daniela Maia, presidente da Riotur, empresa de turismo do município do Rio, ao lançar o programa carioca. “Esses tempos modernos permitem a experiência de se viver onde se deseja”, acrescentou ela.
O nômade digital autêntico seria aquele que abre mão de ter uma residência fixa e muda de um país para o outro a seu bel prazer. Por isso mesmo, o conceito costuma ser mais associado a jovens desprendidos. Mas mesmo entre eles não faltam relatos sobre aspectos negativos da vida de nômade, como solidão, saudade dos amigos e da família e dificuldades burocráticas e financeiras nos países onde se metem.
Além disso, se por um lado a pandemia facilitou o trabalho remoto, por outro dificultou as viagens internacionais. Por isso, no Brasil, o que tem sido mais praticado seria um pseudonomadismo, em que as pessoas passam boas temporadas em outros lugares sem abrir mão da residência fixa.
ESTIMATIVA DE 1 BILHÃO DE NÔMADES EM 2035
Famílias obviamente teriam mais dificuldade de adotar o nomadismo digital. Mas pesquisas indicam que é cada vez maior o número de pessoas que vivem sozinhas e trabalham pela tela, o que reforça a tendência. Em cidades mundo afora, os espaços de coworking e cohousing se multiplicam para atender à demanda. Alguns países oferecem até vistos para nômades.
O site Nomad Life estimou que em 2035 o planeta terá 1 bilhão de trabalhadores nômades. De 2019 para 2020, o número de nômades digitais nos Estados Unidos subiu de 7,3 milhões para 10,9 milhões, segundo a empresa MBO Partners.
Autor do livro Nômade digital: um guia para você viver e trabalhar como e onde quiser (Autêntica Business), o catarinense Matheus de Souza, de 32 anos, deixou a segurança de um trabalho como assistente de marketing para se tornar freelancer e nômade digital em 2017. De lá para cá, esteve em mais de vinte países. Ao Canaltech, ele afirmou: “Eu ganhava em torno de R$ 4 mil quando me tornei nômade e me virava como dava. Hoje ganho bem mais que isso e escolhi passar menos perrengues, então gasto mais.”
O site Nômades Digitais lista dez sinais de que você nasceu para se tornar um nômade digital:
• Rotinas rígidas lhe incomodam.
• Você se adapta bem às mudanças.
• Férias uma vez por ano não são suficientes para você.
• Você não sonha em trabalhar em nenhuma empresa.
• Você volta de viagem e já está planejando a próxima.
• Você não se imagina vivendo no mesmo lugar para sempre.
• Você enxerga beleza na solidão.
• Você sabe que carteira de trabalho não é sinônimo de segurança.
• Você não funciona às sete da manhã.
• Você não tem medo de errar.