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O desafio de humanizar uma grande empresa

Mudar a cultura de uma grande empresa pautada pelo desempenho não é fácil. Principalmente quando distúrbios como ansiedade e depressão se tornam mais frequentes em tempos de pandemia. Para evitar e combater esses males entre seus mais de 4 mil funcionários, a Ambev criou uma diretoria de saúde mental. À frente desse desafio está a psicóloga Mariana Holanda, que há mais de dez anos integra os quadros da empresa de bebidas.

Se há um consenso entre os funcionários da Ambev sobre a nova diretoria, é o de que esta pode contribuir para tornar mais humana a empresa conhecida pelo rigor profissional. Para isso, Holanda tem a tarefa de flexibilizar a prioridade a metas e desempenho e levar lideranças a aceitar melhor os erros.

“Quando se fala de saúde mental, e esse é o ponto que sempre trago para dentro da Ambev, não se fala dos extremos apenas, como a depressão e o burnout (esgotamento)”, disse ela à Exame. “A gente precisa trazer um olhar para o ser humano na sua totalidade. Na companhia, já vínhamos antecipando essa conversa ao trazer atenção para características como vulnerabilidade, empatia, escuta propensa ao outro.”

Holanda reconheceu a dificuldade da tarefa que lhe foi atribuída. “É difícil. Não é fácil, não”, afirmou. “Sabemos que somos a empresa que está inovando nesse sentido, tendo essa diretoria. O que não quer dizer que temos todas as respostas, muito menos que não vamos errar.”

 

MUDANÇA DE MENTALIDADE NA ALTA LIDERANÇA

A psicóloga disse que pretende direcionar o olhar da Ambev para a totalidade do ser humano, e não apenas restringi-lo à qualidade dos serviços prestados à empresa. Para ela, isso começa pelo acolhimento. “Todas as empresas estão lidando com a instabilidade emocional no mundo corporativo. Assim, é importante criar ferramentas para dar suporte, acima de qualquer coisa”, propôs.

Entre essas ferramentas, considerou fundamental o exercício do autoconhecimento: “É extremamente necessário que todos tenham acesso a suas próprias consciências. Antes não se falava em autoconhecimento, agora as soft skills (habilidades comportamentais) começaram a bombar.”

Holanda afirmou que uma mudança de cultura em qualquer empresa passa necessariamente pela alta liderança: “Enquanto as lideranças não internalizarem a transformação de mentalidade, tudo continua rodando em círculos. Transformar não é comprar um laptop e investir em sistemas.” E avaliou: “Toda a sociedade, e o mundo corporativo, é pautada por desempenho. No ritmo de entregar mais e melhor, não existe tempo de recuperação.”

Como parte das estratégias empresariais para manter funcionários mais saudáveis, a resiliência e a capacidade de  lidar com problemas, superar obstáculos e se adaptar a mudanças passam a ser abordadas a partir do tempo de recuperação dado ao cérebro de cada um. “O cérebro é nosso principal músculo e não nos habituamos a olhar para ele desse jeito”, analisou.

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