O QUE VOCÊ PROCURA?

Por um uso mais sadio das redes sociais

As redes sociais são um território virtual e tecnológico de reprodução da vida real, com ingredientes de verdade e mentira, de inspiração ou falta de imaginação, espaço tanto para lutas quanto para afagos. Depende do rumo que você toma. Os caminhos podem conter todos os pecados capitais, assim como as mais elevadas virtudes. É uma questão de opção. Como bem indicam os algoritmos, ali estão retratos que os próprios retratados desconhecem, como algum gosto oculto, óbvio ou indisfarçável.

Há quem use as redes para destilar ódio, mas será isso o que você procura? Que tal ficar bem na fita das redes e usufruir de tudo o que elas podem trazer para melhorar o seu bem-estar?

A questão é que, mesmo para quem só está a fim de paz, os algoritmos das plataformas exercem uma incontrolável atração entre os posts e os assuntos mais extremos, como atesta Lilian Carvalho, coordenadora do Núcleo de Comunicação, Marketing e Redes Sociais Digitais da Fundação Getulio Vargas. “As pessoas devem entender o que a indignação significa no ambiente das redes sociais e como as plataformas usam gatilhos emocionais para manipular nossas emoções”, disse ela à BBC.

Marco Bastos, professor de comunicação e especialista em redes sociais da City University of London, no Reino Unido, vai pelo mesmo caminho. “Não tem como dar atenção a tudo o que acontece, então os usuários usam seu pouco tempo para investir na guerra de quem vai falar o que ou quem vai ter mais resultado sobre aquilo”, afirmou ele, também à BBC. “A economia do ódio atua justamente aí, no conteúdo que as pessoas não conseguem evitar olhar e comentar.”

 

DICAS PARA EVITAR O ÓDIO

O psiquiatra e psicanalista Jorge Forbes se debruçou sobre o outro lado da moeda: como manter uma relação mais saudável com as redes, com ou sem memes, com ou sem vídeos fofinhos ou agressivos. “As redes sociais são a plataforma para o exercício com o outro”, analisou ele, em depoimento à Veja São Paulo. “O problema é quando as pessoas só sabem viver conectadas, como um vício, na firme convicção de que ali vão resolver todos os seus problemas.”

Para Forbes, a irresponsável certeza da impunidade para a prática de agressões pode transformar as redes em ringue, sobretudo para os que tratam os novos sintomas com velhos remédios. “Porém, quando as discussões entram no terreno do olho no olho, bem mais sensível que a tecla na tecla, elas tendem a se arrefecer”, observou. Sob sua ótica, a tal tentação ao ódio pode ser facilmente contornada. Ele dá cinco dicas para isso:

  • Não fale ou escreva ao léu, respeite o interlocutor e a si mesmo.
  • Diga tudo claramente, sem rodeios.
  • Desligue alarmes inúteis de chegada de mensagens.
  • Só fique em grupos que realmente lhe interessem.
  • Não dê consistência à agressividade do outro e nem mesmo à sua.

 

O GATO COMO INSPIRAÇÃO

No livro Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais (Intrínseca), o músico e cientista de computação americano Jaron Lanier usa a diferença de comportamento entre cães e gatos como metáfora para o uso de redes sociais. Os gatos são figuras mais recorrentes que os cães em memes e vídeos bonitinhos. É simples entender por que. Os cachorros são domesticados e criados para obedecer. Já os gatos domesticam a si próprios e, por isso, são imprevisíveis.

Se os cachorros tendem a mostrar o quanto são treinados nos vídeos, os gatos protagonizam os vídeos mais populares por se comportarem de maneira estranha e surpreendente. Eles são espertos e não aceitam ser treinados. Fazem o que querem, independentemente do que o dono espera deles. Conseguem a proeza de se integrar ao mundo da alta tecnologia, mas sem se entregar a ele. Ninguém domina o seu gato, nem você. Por isso, ele é uma boa fonte de inspiração para quem deseja dar o pulo do gato nas redes sociais.

Celina Côrtes é jornalista, escritora e mantém o blog Sair da Inércia.

COMPARTILHE

logo_busca

Mais resultados...

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors