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Povos da floresta guardam riqueza medicinal

Encontrado com facilidade na Amazônia, o jaborandi é uma das raras plantas com propriedades curativas comprovadas e divulgadas mundo afora. Hoje, menos de duzentas das 15 mil plantas medicinais conhecidas são usadas na indústria farmacêutica. É muito pouco diante do potencial de cura oferecido pela biodiversidade das florestas tropicais do planeta.

Para Ricardo Abramovay, professor do Programa de Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP), suprir essa deficiência é uma tarefa científica essencial. Em artigo em seu blog, ele explica que isso “pode dar lugar a inovações tecnológicas decisivas para os laboratórios, para as empresas e as sociedades que dela forem protagonistas”.

Cientistas no mundo inteiro reconhecem a importância do conhecimento dos povos da floresta. É das matas que vem a sabedoria acerca do jaborandi, planta da Floresta Nacional de Carajás usada por indígenas para tratar aftas, resfriados e gripes. Hoje, o jaborandi é componente importante da fórmula de um remédio para glaucoma reconhecido pela Food and Drug Administration (FDA), a agência americana que regula remédios e alimentos.

Citando um estudo do Max Planck Institute, Abramovay afirma que os novos fármacos derivados de plantas correspondem a 60% do total de medicamentos aprovados pela FDA entre 1981 e 2010. A mesma pesquisa também indica que os produtos naturais têm propriedades bioquímicas superiores ao que é oferecido por bibliotecas de informação de grandes empresas farmacêuticas.

 

COMPARTILHAMENTO DE BENEFÍCIOS CONQUISTADOS

Para o professor, é fundamental que os nove países que concentram a maior biodiversidade do planeta se organizem para estimular pesquisas científicas, troca de informações e cooperação internacional. Segundo o site Mongabay, em primeiro lugar está o Brasil, cuja Floresta Amazônica representa 60% das florestas tropicais do mundo. Em seguida estariam: África do Sul, Madagascar, Equador, México, Estados Unidos, China, Filipinas e Austrália.

Abramovay sugere o aprimoramento de mecanismos internacionalmente reconhecidos, como a Convenção da Biodiversidade, bem como o compartilhamento dos benefícios conquistados entre os povos da floresta e instituições científicas ligadas às descobertas.

“Hoje, esses mecanismos não estimulam a pesquisa e o uso industrial de seus resultados e, portanto, pouco beneficiam os povos das florestas tropicais e o avanço do conhecimento científico”, lamenta.

Essa deficiência ajuda a entender a ausência das florestas tropicais na literatura científica de bioeconomia: entre 225 documentos publicados por 567 organizações de 44 países de 2003 a 2020, os mais expressivos são os do Canadá e da Finlândia, conforme a Journal of Forest Science. Os artigos provêm, portanto, de países que não abrigam florestas tropicais.

“Sem respeito pela ciência, pelo multilateralismo, pela cooperação internacional e pelos povos da floresta, a Amazônia continuará sendo um problema num mundo em que ela poderia ser inesgotável fonte de soluções”, analisa Abramovay.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Anton de Kom, no Suriname, e divulgado pelo Greenpeace, mostrou que 80% da população mundial faz uso de produtos 100% naturais nos cuidados primários de saúde. Apenas 20% desta população têm acesso a medicamentos industrializados. A transformação do conhecimento popular em medicamentos, como os que são comercializados nas farmácias e usados nos hospitais, requer pesquisa, tempo e investimento.

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